O Jurássico Inferior na Bacia Lusitaniana - Formação de Água de Madeiros
Apoderoceras Formação de Água de Madeiros |
A Formação de Água de Madeiros sobrepõe-se à Formação de Coimbra apenas no sector oeste da Bacia Lusitaniana - Peniche e São Pedro de Moel.
Esta formação está dividida em dois membros: o Membro da Polvoeira na base, e o Membro da Praia da Pedra Lisa no topo.
Camadas de calcário margoso intercaladas com camadas negras muito ricas em matéria orgânica - "black shales" |
Membro de Polvoeira.
Na zona de São Pedro de Moel, o membro da Polvoeira aflora em dois locais: a norte da Praia da Polvoeira onde as camadas da base desta unidade se sobrepõem aos calcários da Formação de Coimbra; e na Praia de Água de Madeiros, onde estão presentes as camadas do topo.
Apresenta alternâncias de margas com calcários margosos que se tornam progressivamente mais argilosos apresentando camadas muito ricas em matéria orgânica (as chamadas black shales).
A matéria orgânica existente nestes sedimentos terá sido depositada num ambiente marinho pouco agitado (de baixa energia) e pouco oxigenado (anóxico), num clima quente e árido, o que proporcionou a sua preservação.
As "black shales" são camadas importantes no estudo e prospecção de hidrocarbonetos, visto serem potenciadoras da existência de petróleo ou gás natural, por exemplo.
A composição da fauna que depende dos fundos oceânicos (fauna bentónica) altera-se em relação à formação anterior: apesar de prevalecerem aqueles que vivem enterrados no sedimento (infauna), começam a aparecer espécies que vivem ou se deslocam sobre o substrato (epifauna).
Entre estas estão os bivalves marinhos de concha costilhada - os Pectínideos, como as actuais vieiras. Aqui existem fósseis de espécies extintas como Pseudopecten (Pseudopecten) equivalvis ou Oxytoma inequivalvis.
Formação de Água de Madeiros membro da Polvoeira a norte da praia da Polvoeira |
Apresenta alternâncias de margas com calcários margosos que se tornam progressivamente mais argilosos apresentando camadas muito ricas em matéria orgânica (as chamadas black shales).
A matéria orgânica existente nestes sedimentos terá sido depositada num ambiente marinho pouco agitado (de baixa energia) e pouco oxigenado (anóxico), num clima quente e árido, o que proporcionou a sua preservação.
As "black shales" são camadas importantes no estudo e prospecção de hidrocarbonetos, visto serem potenciadoras da existência de petróleo ou gás natural, por exemplo.
Camadas sedimentares do membro da Polvoeira a norte da Praia da Polvoeira |
Pectinideo |
A composição da fauna que depende dos fundos oceânicos (fauna bentónica) altera-se em relação à formação anterior: apesar de prevalecerem aqueles que vivem enterrados no sedimento (infauna), começam a aparecer espécies que vivem ou se deslocam sobre o substrato (epifauna).
Entre estas estão os bivalves marinhos de concha costilhada - os Pectínideos, como as actuais vieiras. Aqui existem fósseis de espécies extintas como Pseudopecten (Pseudopecten) equivalvis ou Oxytoma inequivalvis.
Gryphaea |
Gryphaea |
Na sucessão das camadas sedimentares do Membro de Polvoeira, aparecem de forma marcante os ostreídeos Gryphaea, mais conhecidos por "unhas dos pés do diabo" possivelmente pela suas formas grossas e encurvadas.
Abundam as espécies Gryphaea obliquata, mas também ocorrem outras formas como Gryphaea arcuata ou Gryphaea mccullochi.
Gryphaea |
Gryphaea
|
Existem ainda restos de crinoides, os também conhecidos por lírios-do-mar.
Estes equinodermes têm um esqueleto calcário composto por pequenas placas. Geralmente fixam-se ao substrato por um pé flexível - o pedúnculo, em cujo topo surge o cálice provido de braços, que filtram os alimentos da água.
Quando o crinoide morre, o seu esqueleto desmonta-se e o que geralmente se encontra destes organismos, são as placas (ossículos) espalhadas pelo sedimento.
Dos pequenos ossículos de crinoides que se podem encontrar em Peniche e S.Pedro de Moel, muitos apresentam uma forma de estrela o que nos leva a associar estes fósseis aos extintos Pentacrinus, crinoides com pedúnculo pentagonal e um cálice pequeno, em forma de taça, de onde saiam os seus cinco braços.
Como é deveras reconhecido, as amonites são fósseis de idade muito úteis na datação das formações geológicas, permitindo definir biozonas com menos de um milhão de anos.
O membro da Polvoeira está datado do Sinemuriano Superior (Lotaringiano), mas no que diz respeito à fauna de amonites, esta unidade está compreendida entre as biozonas Oxynotum e Raricostatum.
Ao longo da sucessão estratigráfica desta unidade podemos observar vários espécimes de amonites com muito sucesso no Sinemuriano como as Echioceras, Paltechioceras e Leptechioceras (família Echioceratidae), mas também algumas Gleviceras com as suas formas involutas e um pequeno umbilico.
Mas no final do Sinemuriano, as amonites da família Echioceratidae extinguiram-se.
Numa camada sedimentar do topo do membro da Polvoeira, pode-se observar as últimas Echioceratides de São Pedro de Moel.
É esta camada que assinala o final do Sinemuriano e a passagem ao andar seguinte do Jurássico Inferior - o Pliensbaquiano.
O Membro da Praia da Pedra Lisa representa a parte superior da Formação de Água de Madeiros.
É uma unidade essencialmente calcária, e no seu local-tipo apresenta-se em grandes blocos que mais parecem uma calçada de gigantes. Este padrão, no entanto, deve-se apenas à erosão do calcário nas suas zonas de fractura...
Algumas camadas calcárias apresentam muitas perfurações, talvez o que resta de tocas/túneis de pequenos invertebrados.
Ocorrem também pequenas esferas (possiveis cropólitos?), algumas piritizadas, isoladas e em grupo, a que chamamos concreções.
Mais uma vez, os ossículos de crinoides têm a forma de estrela (pentacrinus) e encontram-se espalhados nas lajes calcárias.
As belemnites, também estão muito presentes nesta unidade.
Os seus fósseis são fáceis de identificar devido à forma de projéctil dos seus rostros, as partes mais resistentes do esqueleto interno do animal.
Na Formação de Água de Madeiros, também se podem encontrar restos vegetais fossilizados como os troncos/ramos das imagens seguintes.
Nas imagens seguintes, um tronco/ramo apresenta segmentos o que nos leva a crer que se trata, possivelmente, de uma planta vascular do género Equisetites que apareceram no Carbonífero e se extinguiram no Cretácico.
O outro género da família (Equisetaceae) tem como representantes as actuais Cavalinhas.
É também possível encontrar outros vestígios da vegetação que existiria nas redondezas, como é o caso da imagem seguinte. Possivelmente, trata-se de restos de uma planta conífera as Pagiophyllum, da familia Araucariaceae que também viveram do Carbonífero ao Cretácico.
A Formação de Água de Madeiros é equivalente (parcial) ao membro calcário da Formação de Coimbra (Camadas de S.Miguel) aflorante em outros locais da Bacia Lusitaniana.
Bibliografia:
Litostratigrafia das séries margo-calcárias do Jurássico Inferior da Bacia Lusitânica (Portugal)
Organic facies and palinofacies study of the Early Jurassic sedimentary sequence in the Lusitanian Basin | Estudos de palinofácies e fácies orgânica de uma sequência sedimentar do Jurássico Inferior da Bacia Lusitânica
Moluscos bivalves da Formação de Água de Madeiros (Sinemuriano superior) da Bacia Lusitânica (Portugal)
Estes equinodermes têm um esqueleto calcário composto por pequenas placas. Geralmente fixam-se ao substrato por um pé flexível - o pedúnculo, em cujo topo surge o cálice provido de braços, que filtram os alimentos da água.
Quando o crinoide morre, o seu esqueleto desmonta-se e o que geralmente se encontra destes organismos, são as placas (ossículos) espalhadas pelo sedimento.
Restos de crinoide |
Restos de pentacrinus |
Dos pequenos ossículos de crinoides que se podem encontrar em Peniche e S.Pedro de Moel, muitos apresentam uma forma de estrela o que nos leva a associar estes fósseis aos extintos Pentacrinus, crinoides com pedúnculo pentagonal e um cálice pequeno, em forma de taça, de onde saiam os seus cinco braços.
Restos de pentacrinus |
Restos de pentacrinus |
Como é deveras reconhecido, as amonites são fósseis de idade muito úteis na datação das formações geológicas, permitindo definir biozonas com menos de um milhão de anos.
O membro da Polvoeira está datado do Sinemuriano Superior (Lotaringiano), mas no que diz respeito à fauna de amonites, esta unidade está compreendida entre as biozonas Oxynotum e Raricostatum.
Echioceratides |
Paltechioceras (1º plano) |
Ao longo da sucessão estratigráfica desta unidade podemos observar vários espécimes de amonites com muito sucesso no Sinemuriano como as Echioceras, Paltechioceras e Leptechioceras (família Echioceratidae), mas também algumas Gleviceras com as suas formas involutas e um pequeno umbilico.
Gleviceras ?? |
Mas no final do Sinemuriano, as amonites da família Echioceratidae extinguiram-se.
Numa camada sedimentar do topo do membro da Polvoeira, pode-se observar as últimas Echioceratides de São Pedro de Moel.
É esta camada que assinala o final do Sinemuriano e a passagem ao andar seguinte do Jurássico Inferior - o Pliensbaquiano.
Camada sedimentar com as últimas amonites do Sinemuriano |
Membro da Praia da Pedra Lisa
O Membro da Praia da Pedra Lisa representa a parte superior da Formação de Água de Madeiros.
Local-tipo da formação de Água de Madeiros |
É uma unidade essencialmente calcária, e no seu local-tipo apresenta-se em grandes blocos que mais parecem uma calçada de gigantes. Este padrão, no entanto, deve-se apenas à erosão do calcário nas suas zonas de fractura...
Formação de Água de Madeiros Membro da Praia da Pedra Lisa |
Algumas camadas calcárias apresentam muitas perfurações, talvez o que resta de tocas/túneis de pequenos invertebrados.
Ocorrem também pequenas esferas (possiveis cropólitos?), algumas piritizadas, isoladas e em grupo, a que chamamos concreções.
Perfurações no calcário |
Pormenor de uma perfuração |
Concreções piritizadas |
Outras camadas apresentam-se muito fossilíferas.
Mesmo assim é preciso uma observação mais atenta (e quase que temos de pôr o nariz no chão) para se poder vislumbrar um sem número de fósseis de pequenas amonites, restos de crinoides, pequenos bivalves e ostreídeos.
Lajes calcárias muito fossilíferas |
Ossículos de crinoides (Pentacrinus) |
Mais uma vez, os ossículos de crinoides têm a forma de estrela (pentacrinus) e encontram-se espalhados nas lajes calcárias.
Ossículos de crinoides (Pentacrinus) |
Bivalve (Oxytoma) |
Restos de Ostreídeo, rostro de belemnite bivalves e pentacrinites |
As belemnites, também estão muito presentes nesta unidade.
Estes animais marinhos que existiram em grande número durante o Jurássico e Cretácico, extinguiram-se ao mesmo tempo que os famosos dinossauros e com as não menos famosas amonites.
Os seus corpos assemelhavam-se ao das actuais lulas, embora os seus tentáculos não apresentassem ventosas mas sim pequenos ganchos, com que capturavam as suas presas.
Belemnite |
Rostrum de Belemnite |
Os seus fósseis são fáceis de identificar devido à forma de projéctil dos seus rostros, as partes mais resistentes do esqueleto interno do animal.
Não só se podem avistar rostros (rostrum) mas também, embora em menor número, os fragmocones (phragmocone) geralmente separados dos primeiros.
Fragmocone de belemnite piritizado |
Rostros e fragmocone de belemnites |
No inicio do Pliensbaquiano (+/- 190M.a.), surge uma nova superfamília de amonites (Eoderoceratoidea) onde se incluem as Apoderoceras.
A presença destas grandes amonites, juntamente com as pequenas Gemmellaroceras, leva alguns autores a datar o topo desta unidade da base do Pliensbaquiano (base da biozona Jamesoni).
Amonite (Apoderoceras) |
Amonite (Gemmellaroceras) onde são visiveis as câmaras de flutuação |
Amonite (Gemmellaroceras) |
Na Formação de Água de Madeiros, também se podem encontrar restos vegetais fossilizados como os troncos/ramos das imagens seguintes.
Tronco fossilizado com 3,90 mts de comprimento |
Pormenor do tronco fossilizado |
Nas imagens seguintes, um tronco/ramo apresenta segmentos o que nos leva a crer que se trata, possivelmente, de uma planta vascular do género Equisetites que apareceram no Carbonífero e se extinguiram no Cretácico.
O outro género da família (Equisetaceae) tem como representantes as actuais Cavalinhas.
Resto vegetal fossilizado provavelmente de uma Equisetite |
Resto vegetal fossilizado provavelmente de uma Equisetite |
É também possível encontrar outros vestígios da vegetação que existiria nas redondezas, como é o caso da imagem seguinte. Possivelmente, trata-se de restos de uma planta conífera as Pagiophyllum, da familia Araucariaceae que também viveram do Carbonífero ao Cretácico.
Pagiophyllum?? |
Outro fóssil de vegetal com 8 cm de comprimento |
A Formação de Água de Madeiros é equivalente (parcial) ao membro calcário da Formação de Coimbra (Camadas de S.Miguel) aflorante em outros locais da Bacia Lusitaniana.
Bibliografia:
Litostratigrafia das séries margo-calcárias do Jurássico Inferior da Bacia Lusitânica (Portugal)
Organic facies and palinofacies study of the Early Jurassic sedimentary sequence in the Lusitanian Basin | Estudos de palinofácies e fácies orgânica de uma sequência sedimentar do Jurássico Inferior da Bacia Lusitânica
Moluscos bivalves da Formação de Água de Madeiros (Sinemuriano superior) da Bacia Lusitânica (Portugal)
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