O Jurássico Inferior na Bacia Lusitaniana - Formação de Coimbra




Das bacias peri-atlânticas formadas aquando da fracturação do supercontinente Pangea, a Bacia Lusitaniana é a única que, actualmente, se encontra parcialmente emersa.
A sua evolução, que durou cerca de 135 M.a., do Triásico Superior ao final do Cretácico Inferior, esteve directamente ligada ao processo de abertura do Oceano Atlântico Norte.





Foi no inicio do Jurássico Inferior que a Bacia Lusitaniana começou a ser progressivamente invadida por águas marinhas.
Os calcários formados do Sinemuriano ao Toarciano  (+/- 199 a 174 Milhões da anos), podem ser observados em vários locais do país mas há dois locais onde esta sequência se torna mais espectacular: São Pedro de Moel e Peniche.

Resolvemos visitá-los para conhecer mais um pouco dos habitantes marinhos dessa época.



Estratos da Formação de Coimbra em S.Pedro de Moel


Em São Pedro de Moel, as  primeiras camadas sedimentares do Sinemuriano estão representadas na Formação de Coimbra, a primeira formação verdadeiramente carbonatada depositada na Bacia.

Na Praia Velha, podem-se encontrar estromatólitos fósseis em forma de domos. 
Estas formas circulares, facilmente confundíveis com rochas, são na realidade o produto fossilizado da actividade de cianobactérias, que após metabolizarem os carbonatos que absorvem da água os depositam nas suas membranas celulares. Estes organismos unicelulares formam colónias que, ao depositarem-se no fundo de mares rasos e quentes, desenvolvem camadas sucessivas, alternadas com partículas sedimentares, formando montículos que por vezes evoluem verticalmente.


Estromatólitos


As cianobactérias que surgiram à cerca de 3.500 milhões de anos, foram a forma de vida dominante no planeta por mais de 80% do tempo em que existe vida na Terra e, não só se adaptaram ao meio ambiente, como o modificaram.
Devido à sua capacidade de realizar fotossíntese, forneceram parte do oxigénio da atmosfera primitiva terrestre, permitindo a disseminação da vida na Terra, e em última análise a nossa existência.


Estromatólitos


Em camadas posteriores existe bastante bioturbação. São bem visíveis marcas deixadas por invertebrados marinhos ao escavarem tocas ou túneis para alimentação (o icnogénero Rhizocorallium com as suas características formas em U). Existem também marcas de galerias de alimentação/habitação, atribuídas a crustáceos decápodes  (icnogénero Thalassinoides).


Camadas sedimentares com bastante bioturbação


Nesta formação começam a surgir os primeiros fósseis de amonites da Bacia Lusitaniana, reveladores de um meio marinho mais aberto.
No futuro, as alterações ambientais na bacia farão com que estes amonóides dominem, em quantidade, o registo fóssil. No entanto aqui, apresentam-se em camadas sedimentares timidamente misturadas com um grande numero de bivalves.


As primeiras amonites da Bacia Lusitaniana (Ptycharietites) 


Amonites (Ptycharietites) 


Amonites (Ptycharietites) 


Os bivalves surgem em várias camadas sedimentares, e a maioria apresenta as valvas ainda unidas como em vida.
Certos locais, a que gostamos de chamar de infantários, apresentam concentrações de indivíduos juvenis. Estas são algumas das razões que nos levam a supor que estes animais cresceram e viveram neste local, em oposição a outras jazidas em que a concentração de fósseis é composta principalmente por conchas separadas, que foram sujeitas a transporte.


Camadas sedimentares repletas de bivalves (Unicardium costae ??)


Camadas sedimentares repletas de bivalves 


"Infantário" de bivalves


Exemplar de bivalve com excelente preservação


Para além dos bivalves, outros moluscos muito abundantes nesta formação são os gastrópodes.
Estes animais, muito comuns nos registos fósseis, apresentam-se aqui com alguns exemplares em óptimo estado de conservação.

Existem em grande diversidade de tamanhos, que vão desde aproximadamente os 12 cm de comprimento, a espécimes milimétricos que mal se vêem a olho nu.


Gastrópode ( 2,3cm )


Pequenos gastrópodes


Pequenos gastrópodes


As suas conchas em espiral e a idade atribuída aos sedimentos (inicio do Jurássico Inferior - Sinemuriano) sugerem que alguns destes gastrópodes pertençam à família Pseudomelaniidae, muito diversificada no Mesozóico mas extinta à cerca de 23 Milhões de anos.


Pseudomelania costae ??


Gastrópode


Gastrópode


Na sequência sedimentar da formação de Coimbra está representado um aumento gradual do nível do mar,  que irá atingir o seu auge na formação seguinte, muito rica em matéria orgânica: a Formação de Água de Madeiros do Sinemuriano Superior.


Estratos da Formação de Coimbra
na Praia da Polvoeira


Estratos da Formação de Coimbra
na Praia da Polvoeira




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