O tronco-pelourinho da Pederneira

 

Tronco-Pelourinho da Pederneira
Pelourinho da Pederneira

Aquilo que se pode descobrir quando se procura saber mais sobre um simples tronco fossilizado! Primeiro porque não é um tronco qualquer e segundo porque o local onde se encontra está carregado de História e muitas histórias. Mas vamos ao que interessa.

O tronco não é mais do que um pedaço do caule de uma antiquíssima conífera que terá vivido há cerca de 100 milhões de anos. Estávamos portanto no período Cretácico quando este tronco caiu e foi possivelmente arrastado pela água de um rio, ou ficou preso nas margens de uma laguna, sendo coberto, guardado e protegido por sedimentos que mais tarde se transformaram em rocha. Os tecidos rígidos e porosos da árvore foram sendo lentamente impregnados e substituídos por minerais, petrificando, pelo que o que outrora foi madeira… hoje ficou pedra.

Pelourinho da Pederneira
e brasão na fachada da antiga Câmara Municipal


A pedra, neste caso, é o sílex, uma rocha de origem sedimentar silicatada, muito dura, que foi muito utilizada pelos nossos antepassados pré-históricos para o fabrico de utensílios de corte, pontas de lança ou de flechas, assim como para fazer fogo, já que quando friccionado o sílex é capaz de produzir centelhas, principalmente quando percutido por peças em ferro. Por isso, o sílex, também chamado de Pederneira, foi também muito utilizado em peças antigas de artilharia, em espingardas e em isqueiros.

Tronco fóssil de silex ou pederneira

Mas o que está a fazer um tronco fossilizado no lugar de um pelourinho?

Já lá vamos, porque há quem diga que o tronco fóssil poderá terá sido utilizado como menir durante o período neolítico…. certo é que ele foi encontrado pelos primeiros habitantes da vila, que sacralizaram o local onde hoje se encontra o cemitério. 
E foi possivelmente este tronco que terá dado origem ao nome da terra: Pederneira.

Pelourinho da Pederneira

Mas falemos um pouco sobre a História desta localidade. 
Pederneira é uma das mais antigas povoações portuguesas e estava integrada nos coutos do Mosteiro de Alcobaça, por doação de D. Afonso Henriques. Existem vários documentos, os mais antigos do séc. XI, que atestam a longevidade da vila.  

Nesta altura e como podemos calcular, o que hoje conhecemos como a praia e a vila da Nazaré era completamente diferente. No que hoje conhecemos como Sítio, existia desde 1182 um local de romaria a Nossa Senhora da Nazaré, que foi crescendo como local de culto e como povoação. O imenso areal da praia da Nazaré não existia e na colina a nascente localizava-se a vila da Pederneira. Mais a sul surgia a barra da laguna da Pederneira, hoje desaparecida devido ao assoreamento, no interior da qual, abrigado das águas do mar se localizavam os estaleiros e o porto da Pederneira.

Ainda se pode imaginar a antiga Lagoa da Pederneira
onde hoje se localizam os férteis campos da várzea
Foto:Google Earth

Crê-se que a vila cresceu com a vinda dos habitantes de Paredes, um burgo vizinho que foi arrasado pelas areias do mar, e com eles terá vindo o seu foral datado de 1286. Terra de pescadores, armadores e gentes do mar, Pederneira era um importante porto nacional que floresceu e prosperou com a indústria da pesca, com a construção naval e com as gentes que vinham em romaria à Senhora da Nazaré. 
Os estaleiros navais da Pederneira muito contribuíram para as explorações marítimas portuguesas, sendo aqui construídos vários tipos de embarcações como caravelas, naus e fragatas.

Promontório da Nazaré 
e os estratos sedimentares de idade cretácica

No inicio do séc XVI, o progressivo assoreamento da laguna tornou inviável o funcionamento dos estaleiros e do antigo porto, que tiveram de ser deslocalizados para a zona da actual praia da Nazaré, para onde mais tarde se deslocaram também muitos dos habitantes da Pederneira. 

A vila muda-se para uma posição cimeira à Praia da Nazaré onde ainda hoje se mantém e em 1514 recebe de D.Manuel I novo foral com privilégios para os mareantes, pescadores e população em geral. 
No largo onde se encontrava a antiga sede de município foi construído um pelourinho manuelino do qual resta apenas uma plataforma composta por quatro degraus de secção octogonal.

Nazaré vista da Praia do Salgado

Em 1836, Pederneira deixa de ser sede de município passando a estar integrada no concelho de Alcobaça (e posteriormente no da Nazaré). 
Coincidência ou não, o pelourinho manuelino desaparece e em 1886, é colocado o Tronco Fóssil de Pederneira sobre a plataforma, em substituição do antigo símbolo do poder local.

O TRONCO-PELOURINHO da PEDERNEIRA encontra-se classificado desde 1933 como Imóvel de Interesse Público



Bibliografia:


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