As colunas basálticas da Portela da Teira



Parece que um regimento de canteiros esculpiram estas colunas de pedra, prontas a ser utilizadas na decoração de um grande monumento, mas estes enormes prismas basálticos, foram esculpidos pela mãe natureza, no interior da Terra.
Afinal o que são, como e porque se formaram estas "esculturas" naturais que se podem observar na frente de uma antiga pedreira da localidade de Portela da Teira, a  norte de Rio Maior?

 
Quando nos falam em basaltos, vem logo à ideia aquelas rochas escuras que resultam do arrefecimento do magma expelido pelos vulcões. 
No entanto, apesar de terem uma composição idêntica à dos basaltos, as rochas que aqui se encontram chamam-se doleritos. São rochas intrusivas, formadas quando o magma basáltico se introduz entre camadas de rochas mais antigas, e arrefece a pouca profundidade, no interior da crosta terrestre.

Na Portela da Teira, o magma espalhou-se lateralmente por entre as camadas de rocha sedimentar aqui existentes, formando uma "massa de rocha" com uma espessura mais ou menos uniforme, que em geologia tem o nome de soleira ou filão-camada. O filão-camada da Portela da Teira tem vários quilómetros de extensão.

 

Porquê estas rochas parecerem grandes colunas de pedra?

Várias são as tensões às quais o magma é submetido à medida que arrefece e solidifica, transformando-se em rocha. À medida que a lava arrefece, as rochas magmáticas contraem e perdem volume, originando o aparecimento de fendas (diáclases). Essas fendas, perpendiculares à superfície de arrefecimento, propagam-se para o interior da rocha, resultando na formação de grandes colunas, geralmente de secção hexagonal,  mas podendo também existir de 5 ou 7 lados.

As colunas de disjunção prismática ou disjunção colunar da Portela da Teira (é assim que se chamam estas estruturas) chegam a atingir 20 metros de altura, sendo o seu diâmetro de cerca de meio metro.



Foi no final do Jurássico/inicio do Cretácico que ocorreu um evento magmático que deu origem à formação destas belas colunas de rocha basáltica.
Mas para se entender a razão de ter ocorrido magmatismo em Portugal nesse período, teremos de recuar ainda mais no tempo. 



O grande Oceano Atlântico, omnipresente na nossa identidade, indissociável da nossa cultura e indispensável para o nosso futuro,...nem sempre existiu. 
Começou a formar-se à cerca de 200 milhões de anos quando Pangea, o vasto e único continente que então existia começou a fragmentar-se.
Em certos locais do grande continente, a litosfera terrestre foi  levantada, esticada e adelgaçada, formando várias áreas de rift.  




No final do Triásico, dá-se a abertura do oceano Atlântico Central e África começa a afastar-se da América do Norte. 
Entre a Ibéria e a Terra Nova, vizinhas até então, o estiramento da crosta provocou o aparecimento de várias depressões - bacias sedimentares, entre as quais a Bacia Lusitaniana. 
A fracturação continental continuou até que no Cretácico inferior, dá-se inicio à abertura do Atlântico Norte, com a formação de crosta oceânica a progredir de sul para norte, ao largo da Ibéria.
A crosta oceânica mais antiga que se conhece a oeste da margem ocidental ibérica, fica na Planície Abissal do Tejo, e tem uma idade estimada de 142 milhões de anos.

Dolerito onde os cristais são visíveis à vista desarmada
(estrutura fanerítica)

É neste contexto de inicio da oceanização do Atlântico Norte,  que ocorre o evento magmático que deu origem às colunas de disjunção prismática da Portela da Teira, mas também a outras rochas magmáticas expostas em afloramentos nas proximidades. 


A erosão eliminou as camadas sedimentares que cobriam o filão magmático, que por fim viu a luz do dia, aconchegado entre rochas sedimentares do jurássico superior. 

Os blocos foram aproveitados pelo Homem, certamente desde há muito tempo, tendo posteriormente sido aqui instalada uma pedreira, hoje desactivada. É na frente dessa antiga pedreira que melhor se podem observar as colunas basálticas, em todo o seu esplendor.




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