Pegadas de dinossauros da Jazida "Pedreira/Amoreira"




Próximo do Santuário de Fátima, a meio caminho das localidades de Pedreira e de Amoreira, situa-se a jazida de "Pedreira/Amoreira". 
Localizada num olival, deslumbra-nos com um magnifico conjunto de trilhos e pegadas de dinossauros, encontrando-se muitas num razoável estado de conservação.

Curiosamente, e apesar de se encontrar a céu aberto, não foi a primeira jazida a ser descoberta nesta região do país.
Hoje temos conhecimento da sua existência, não devido à exploração de pedreiras, como aconteceu na Pedreira do Galinha, em Vale de Meios ou Algar dos Potes, mas sim devido ao olhar aguçado de um grupo de caçadores locais, que em finais de 1997, repararam nestas estranhas depressões que se afundavam no calcário cinzento.


"Trilho 1"

O primeiro impacto da visita é de cortar a respiração.
Um magnífico trilho de grandes pegadas com três dedos (tridáctilas), faz-nos adivinhar a passagem de um grande terópode. 

Com um comprimento total de 16,70 metros, este espectacular trilho da "Pedreira/Amoreira" é composto por seis pegadas consecutivas em bom estado de preservação, uma que desapareceu, duas onde apenas são visíveis vestígios do digito do meio, e outras duas num estado de preservação deficiente, ou seja, um total de 11 pegadas.
Vamos chamá-lo de "trilho 1" já que foi o primeiro que avistámos.

 Jazida de "Pedreira/Amoreira"
"Trilho 1"

Uma característica curiosa deste trilho é os passos apresentarem comprimentos diferentes; ou seja, o passo do pé direito para o esquerdo é de 1,70 m e o passo do pé esquerdo para o direito tem um comprimento de 1,60 m. 
No entanto, pode-se estimar que este animal progredia a uma velocidade de cerca de 5 Km/h.

Neste trilho, as pegadas apresentam dedos largos e a "planta do pé" com uma área significativa. Com tamanhos a rondar os 70 cm de comprimento, indicam que o animal que o produziu mediria cerca de 3,40 mts do solo à anca.

Pegada de terópode do "Trilho 1"
(comparação com tamanho da mão)

Jazida de "Pedreira/Amoreira"
Trilho "G"

Muito próximo do anterior e num sentido quase oposto, identificámos um novo trilho ao qual chamámos "trilho G". 
Com um comprimento de 5,45 mts, é composto por 4 pegadas consecutivas.
Apesar de serem também pegadas tridáctilas, apresentam uma morfologia diferente das anteriores e são também muito menos profundas. 
As passadas, com um comprimento médio de 3,25 mts, sugerem um andar mais rectilíneo, onde o dinossauro quase que troca o passo, ou se bamboleia ao caminhar.
Estas pegadas têm um comprimento médio de 60 cm pelo que o animal atingiria cerca de 2,90 mts de altura do solo à articulação da anca.
Progredia a uma velocidade estimada de cerca de  5,8 Km/h.

Diferença entre as pegadas dos trilhos "1" e "G"

Já fora dos limites do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, os icnofósseis da "Pedreira/Amoreira" localizam-se no planalto de São Mamede, uma das zonas elevadas que compõem a maior área de calcários do Jurássico em Portugal - o Maciço Calcário Estremenho.

Nesta paisagem de pedras amontoadas, os olivais destacam-se da vegetação rasteira, fruto do esforço dos mais persistentes. 

Durante milhões de anos escondida neste local à primeira vista improvável, a jazida da "Pedreira/Amoreira" revela-se hoje aos nossos olhos incrédulos, apesar de se encontrar em várias parcelas de terrenos privados.

Pegada de terópode do "Trilho 1"

O Sr. António, proprietário de uma dessas parcelas, estava emigrado no Brasil quando da descoberta. 
Hoje, com uns bonitos 87 anos de idade, mostra com orgulho as pegadas dos dinossauros que ali passaram. 
Contou-nos que viu as notícias da descoberta das pegadas pelos órgãos de comunicação social e disse para consigo: 
- Aquilo é o meu terreno!! 
Quando regressou a Portugal, mandou fazer um muro para vedar a propriedade, mas o portão ficou por colocar! 
- "Como é que as pessoas depois vinham ver as pegadas?" - acrescentou com um sorriso. 

É enternecedor ver o altruísmo deste senhor ao permitir que estranhos invadam a sua propriedade, para poderem ver as pegadas. 
Cabe-nos a nós, quando as vamos visitar, lembrar-nos de que se trata de uma propriedade particular e zelar-mos para que o local se mantenha cuidado e digno, como o Sr. António tanto se esforça para o manter.

- Há muitas por aí...estão é tapadas...! - disse-nos com alguma tristeza.

Quarta pegada de terópode do "trilho 1"

Jazida de "Pedreira/Amoreira"
"Trilho 2"

De facto, numa parcela de terreno contíguo, encontra-se outro trilho.
Vamos chamar-lhe o "trilho 2", por estar na segunda parcela de terreno que visitámos.

Com 8,50 mts de comprimento, é composto por cinco pegadas também tridáctilas, atribuíveis a dinossauros terópodes.
Os dedos são largos e robustos e as impressões apresentam um comprimento médio de 62 cm.
Este grande carnívoro teria do solo à anca uma altura aproximada de 3,00 metros.

Pegada de terópode do "trilho 2"  com 62 cm de comprimento

Primeira pegada de terópode do "trilho 2"


Quando da sua descoberta em 1997, as pegadas da "Pedreira/Amoreira" foram atribuídas ao Jurássico médio, talvez pela sua proximidade à Pedreira do Galinha (cerca de 4 Km). 

No entanto, se consultarmos a Carta Geológica de Portugal 1:50 000 do L.N.E.G., o local desta jazida está classificado como pertencendo a dois andares do Jurássico Superior - do Oxfordiano ao Kimmeridgiano.
Estamos pois a falar de um longo período de tempo que vai dos 163 aos 152 milhões de anos.

Pegada de terópode do "trilho 2"


Terceira pegada de terópode do "trilho 2"

Alguns metros mais à frente, deparamos com outro trilho.
Este, ao qual chamaremos de "trilho 3", é composto por 8 pegadas que se apresentam mal conservadas. A impressão melhor preservada (imagem em baixo) apresenta um comprimento de 63 cm, no entanto, esta poderá não ser a medida correcta visto a impressão se encontrar muito desgastada.
Embora não seja visível nas imagens, todas as pegadas deste trilho apresentam na parte traseira pequenas depressões que poderão corresponder às marcas ao digito I (hálux) do animal.

Pegada de terópode do "trilho 3"

Conjunto de pegadas de terópodes de menores dimensões

Os terópodes, que viveram desde o período Triásico ao Cretácico (Mesozoico), incluem uma grande variedade de dinossauros carnívoros e bípedes, e havia-os pequenos como uma galinha e enormes como o famoso e temível Tyrannosaurus Rex.

 Pegada de terópode de menores dimensões(comparação com tamanho da mão)

Nesta jazida também se encontram vestígios de terópodes com dimensões mais reduzidas, sobretudo numa camada sedimentar de fina espessura, que sobrepõe a camada onde se encontram os "trilhos 1 e G".

Estas pegadas, são de muito difícil percepção, já que são muito pouco profundas e encontram-se camufladas pela textura e côr do próprio calcário. Muitas delas só são perceptíveis pelo tacto.

Algumas destas pegadas, com comprimentos médios de 36 cm, revelam que estes carnívoros atingiriam cerca de 1,75 mts de altura do solo à anca.

Pegada de terópode com 35 cm de comprimento

Alguns terópodes, eram caçadores exímios. Dinossauros herbívoros como o estegossauro Miragaia, ornitópodes como o Draconyx,  ou grandes saurópodes como o Lourinhasaurus estavam entre as suas presas, mas também poderiam caçar outros terópodes.
Havia também alguns terópodes que se alimentavam de peixes e outros animais aquáticos, outros de insectos e pequenos animais, e muitos eram necrófagos e alimentavam-se de carcaças. Alguns terópodes omnívoros poderiam ainda incluir vegetais na sua dieta.

A diferença de tamanhos e morfologia das pegadas da jazida da "Pedreira/Amoreira", sugere que este seria um habitat que permitiria a existência de mais de um tipo de predadores, apesar de até ao momento não terem sido aqui encontradas pegadas de outros grupos de dinossauros. 

Pegada de terópode com 37 cm de comprimento

A pegada de um gigante

E terminamos este post com uma pegada SURPREENDENTE.

Faz parte de um conjunto de duas que se encontram actualmente a descoberto, mas o mais provável é que o trilho se prolongue por baixo da terra e da vegetação. A outra pegada deste conjunto encontra-se muito mal preservada.

Com 76 cm de comprimento, esta é não só a maior pegada que se encontra a descoberto nesta jazida, como também a maior pegada  tridáctila de todas as jazidas que já documentámos neste Blog.

O seu produtor seria pois um enorme predador do Jurássico Superior em Portugal, equivalente ou mesmo superior em tamanho a um T-REX. 
No entanto, o Tyrannosaurus Rex, talvez o mais famoso terópode em todo o mundo, só viveria milhões de anos mais tarde, durante o final do Cretácico, na América do Norte.

Pegada com 76 cm de comprimento
que terá sido produzida por um terópode gigantesco.





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