Monumentos megalíticos

Cromeleque dos Almendres

Para se poder falar de megalitismo em Portugal é obrigatória uma visita ao nosso Alentejo, não fosse esta uma região com uma enorme concentração de monumentos megalíticos. 

O megalitismo português é um fenómeno arquitetônico com um espaço temporal muito grande, tem inicio na segunda metade do VIº milénio a.C. e perdura até aos inícios do IIº milénio a.C.. 


Anta do Tapadão
Crato
Neolítico Final e o Calcolítico (3500 - 2000 a. C.)


Megálitos significa grandes pedras (mega=grande, litos=pedra), portanto chama-se monumentos megalíticos a construções efetuadas com grandes pedras erguidas na vertical. 

Entre elas estão os Menires ou monólitos, os conjuntos de menires ou Cromeleques e as Antas ou dólmens.

Anta da Melriça
Castelo de Vide
Monumento Nacional (1910)
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2000 a. C.)

Menir da Meada
Castelo de Vide
Monumento Nacional (2013)
VIº milénio a.C.

Cromeleque do Vale de Maria do Meio
Évora
Monumento Nacional (2013)
Neolítico Antigo e Médio (cerca de 6000 - 5000 a.C.)


MENIRES

Pensa-se que os primeiros monumentos megalíticos a serem erigidos terão sido os menires, também chamados de monólitos, que como o seu nome indica são grandes blocos de pedra isolados, erguidos na posição vertical.

Menir da Meada
Castelo de Vide
Monumento Nacional (2013)
VIº milénio a.C.  (Cal BC 4810 a 5010) 
É o maior menir totalmente talhado pelo homem existente em toda a Península Ibérica.
 Com configuração fálica, tem 7,15 metros de altura total.


Terão sido os primeiros pastores/agricultores que vieram para o Alentejo quem os construiu, possivelmente grupos de população indígena proveniente dos vales do Tejo e Sado, que tendo adquirido alguns conhecimentos de agricultura/pastorícia, tenham decidido migrar mais para o interior.


Menir dos Almendres
Neolítico ao Calcolítico (cerca 5500 - 2000 a. C.)
Tem cerca de 4 metros de altura.
Possui decoração constituída por uma inscultura em forma de "báculo".
Ao nascer do sol no solstício de verão, fica alinhado com o Cromeleque dos Almendres 


Curiosamente, os menires graníticos alentejanos estão implantados em locais onde não existem granitos, se bem que este tipo de rocha exista nas imediações. Não se tratava, portanto, de erguer essas grandes pedras no sítio onde elas se encontravam, mas sim, erigir esses monumentos em locais escolhidos, geralmente em encostas suaves viradas a nascente.

Menir do Patalou
Castelo de Vide
Vº Milénio a.C. (Cal BC 4340 a 4235)
Com altura de 4 metros e um diâmetro máximo de 0,90 metros, pesa cerca de 7 toneladas. 


Existem várias teorias para explicar a razão ou o motivo para a construção dos menires. 
Uma sugere que os menires poderiam representar pessoas, quem sabe antepassados, personagens míticos, heróis fundadores ou divindades, baseando-se na sua posição vertical, e na presença de algumas gravuras que poderão representar figuras humanas.
Os báculos ou cajados, por exemplo, representados em muitos dos menires alentejanos, indicariam a presença de comunidades pastoris. Esta seria, pois, uma forma de assinalar o território, uma maneira de dizer aqui estamos nós e esta é a nossa terra – afastem-se. 
Por outro lado, a forma fálica de alguns menires sugere que possam estar relacionados com rituais de fertilidade. Numa época em que as técnicas agrícolas eram ainda muito rudimentares, os homens terão tentado estimular a fertilidade da terra erguendo estes grandes símbolos, quem sabe acompanhados de algum ritual. 

Menir do Patalou


CROMELEQUES

Aos recintos megalíticos onde existe um conjunto de menires dá-se o nome de cromeleque. 

Cromeleque do Vale de Maria do Meio
Évora
 Monumento Nacional (2013)
 Neolítico Antigo e Médio (cerca de 6000 - 5000 a.C.)

Cromeleque do Vale de Maria do Meio
Évora
 dos 34 menires maioritariamente em granito, dois apresentam gravuras de báculos e crescentes lunares

Cromeleque do Vale de Maria do Meio
Évora
Neolítico Antigo e Médio (cerca de 6000 - 5000 a.C.)
poderá ter tido duas fases de construção


No Alentejo, a maioria destes recintos apresentam a forma de um semi-círculo ou ferradura, abertos genericamente a Nascente. Curioso, pois essa configuração manteve-se em uso nos anfiteatros romanos e nos nossos parlamentos.
Alguns cromeleques terão sido usados durante um largo período, e, portanto, reconstruídos e acrescentados com novos monólitos, como é o caso do Cromeleque dos Almendres com três fases de construção. 

Cromeleque dos Almendres
Évora
Monumento Nacional (2015)
Final do VIº milénio a.C.
É um dos monumentos mais antigos e importantes da Europa e
 provavelmente o monumento megalítico mais importante da Península Ibérica.


Cromeleque dos Almendres
Évora
Dos actuais 95 monólitos de granito que compõem o cromeleque,
 cerca de uma dezena exibe relevos ou gravuras.


A sua longevidade conferiu-lhes variadas funções. Locais de culto e de celebração de rituais, locais de reunião onde se ouviam os mais velhos ou os mais sábios, locais onde se fariam trocas de produtos e de animais, locais onde se observavam os astros.
 
Olhar para o céu e observar os astros está no nosso ADN. 
Naquele tempo em que o homem pôde parar e olhar para o céu no mesmo local, percebeu que os movimentos do Sol e da Lua eram diferentes ao longo do ano. 
Percebeu que quando o Sol ia baixo no céu chovia mais, as noites eram longas e fazia vento e frio. Percebeu que os dias eram maiores, mais quentes e secos, quando o sol ia alto no céu. 
Percebeu que se podia guiar pelos astros, e com eles alinhou as grandes pedras, alinhamentos esses que indicam a posição do Sol e da Lua nos solstícios.

Cromeleque Monte das Fontaínhas
Mora
 Imóvel de Interesse Público (1990)
 Neolítico Antigo / Médio com eventuais reutilizações no Neolítico Final


Cromeleque Monte das Fontaínhas
Mora
6 menires talhados em granito dos quais um com gravuras
de um crescente e um báculo.



ANTAS ou DÓLMENS

As Antas são monumentos funerários. Existem vários tipos de antas: fechadas, abertas sem corredor e abertas com corredor. 

Antas Grandes do Paço
Montemor-o-Novo
Monumento Nacional (1936)
4000 a.C. - 3000 a.C.

Anta do Tapadão
Crato
Neolítico Final e o Calcolítico (3500 - 2000 a. C.)
 O seu longo corredor tem um comprimento que ronda os 11 metros e mais de 1 metro de altura


As antas que hoje vemos no Alentejo são na realidade como que o esqueleto da estrutura tumular, que estaria envolta por um monte, circular ou oval, de terra e pedras que a cobria por completo, denominado de tumulus ou mamoa.
A câmara funerária era composta por grandes pedras chamadas esteios ou ortóstatos, dispostas na vertical e coberta por uma grande laje colocada na horizontal, designada "chapéu".
O corredor formado por esteios de cada lado e coberto por “tampas”, podia ter comprimentos variados, e encontrava-se protegido pela mamoa. O corredor permitia aceder directamente ao interior da câmara funerária sempre que se pretendesse realizar um novo sepultamento.
No exterior, em alguns casos poderia existir um átrio de entrada.

Anta Grande da Comenda da Igreja
Montemor-o-Novo
Monumento Nacional (1936)
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2500 a. C.)

Representação da Anta Grande da Comenda da Igreja com mamoa 


Anta Grande da Comenda da Igreja
Montemor-o-Novo
câmara de planta poligonal, com cerca de 4,5 metros de diâmetro
8 esteios de granito, com cerca de 6 metros de altura
corredor com 11 metros de comprimento


No Alentejo, esta prática funerária ter-se-á iniciado há cerca de 6500 anos, mas os grandes dólmens terão começado a ser erguidos mil anos depois, ou seja, a partir dos finais do IVº milénio a. C., quando o processo de sedentarização estaria concluído e as comunidades seriam cada vez mais numerosas.


Anta dos Saragonheiros
Nisa
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2000 a. C)
câmara de planta poligonal com 7 esteios de granito 
corredor longo, com cerca de 12 metros de comprimento 


Anta Grande do Zambujeiro
Évora
Monumento Nacional (1971)
Neolítico Final e o Calcolítico (3500 - 2000 a. C)
Possivelmente o maior dólmen da Península Ibérica
câmara de planta poligonal, formada por 7 esteios de granito com grandes dimensões
corredor longo e baixo, com cerca de 12 metros de comprimento
acesso precedido por um átrio


Alguns dólmens foram reutilizados durante o Calcolítico (Idade do Cobre) chegando mesmo à idade do Bronze, sendo que, em algumas destas grandes antas colectivas, terão sido sepultadas centenas de pessoas.


Anta de São Gens ou Anta da Vila de Nisa
Nisa
Monumento Nacional (1910)
Neo-Calcolítico (segunda metade do 4.º - primeira metade do 3.º milénios a.C.)
câmara de planta poligonal com 7 esteios
corredor curto


As antas estão cobertas de crenças e de simbolismos. A sua estrutura semelhante a uma gruta natural, é por muitos associada ao útero feminino, ao ventre da mãe-Terra, de onde se nasce e para onde se regressa, uma entrada para o mundo das trevas onde os defuntos iniciariam uma nova jornada.  As suas entradas viradas a nascente, de onde provém a luz, iluminariam dia após dia esse caminho, rumo á eternidade.

Anta do Tapadão
Crato
Monumento Nacional (1910)
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2000 a. C.)
um dos maiores monumentos megalíticos do Alentejo


O megalitismo está relacionado com um momento importantíssimo para a Humanidade – o início da domesticação de plantas e animais, ou seja, o aparecimento da agricultura e da pastorícia.

A agricultura surgiu há cerca de 11 mil anos no Próximo Oriente quando o homem descobriu que podia semear os grãos selvagens que até então coletara. A domesticação de animais terá surgido cerca de 1000 anos mais tarde.  

Ao contrário das sociedades mesolíticas em que os homens eram caçadores/recolectores, deslocando-se pelos territórios atrás dos recursos existentes, com o aparecimento da agricultura o homem deixou de depender da natureza e começou a produzir os seus alimentos.

Anta do Sobral ou Anta da Nave do Grou
 Castelo de Vide
Monumento Nacional (1910)
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2000 a. C.)


Semear para mais tarde colher, implicava esperar, ficar no mesmo lugar, sedentarizarem-se, estabelecerem povoados, organizarem-se como sociedade. Surgiram novas ferramentas em pedra polidas e moldadas, como machados e mós manuais para a moagem dos grãos. A necessidade de guardar grãos e alimentos deu origem ao aparecimento da cerâmica.

Esse período da pré-história chama-se Neolítico ou Idade da Nova Pedra (neo = novo + litos = pedra).

Os Homens começaram a moldar a natureza, e a Terra nunca mais foi a mesma.

Anta de São Gens ou Anta da Vila de Nisa
Nisa
Monumento Nacional (1910)
Neo-Calcolítico (segunda metade do 4.º - primeira metade do 3.º milénios a.C.)


Existem duas teorias que procuram explicar o aparecimento da agricultura/pastorícia no nosso país.

Uma defende que a “cultura” neolítica, que se foi expandindo gradualmente de leste para oeste, ao longo do mediterrâneo, chegou ao nosso território na segunda metade do VIº milénio a.C.. 

Grupos vindos do Mediterrâneo ocidental terão aqui chegado por mar, trazendo consigo o chamado “pacote neolítico” que, além do cultivo de cereais e de leguminosas variadas, e da criação de animais, tais como ovelhas e cabras, incluía também novas ferramentas, utensílios de cerâmica e uma nova forma de vida. 
Ter-se-ão fixado em zonas circunscritas da Estremadura Portuguesa e do Barlavento Algarvio.

Anta Grande do Caminho da Fanica
Coruche
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2000 a. C.)


Outra defende que, devido a alterações climáticas, nomeadamente o aumento do nível do mar nas zonas litorais e ribeirinhas, a extinção e a migração de muitas espécies animais e a alteração dos ecossistemas, levou a que as populações indígenas mesolíticas se vissem obrigadas a alterar os seus métodos de sobrevivência, levando progressivamente à domesticação animal e vegetal. 

Anta Pequena do Caminho da Fanica
Coruche
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2000 a. C.)


No Vale do Tejo e do Sado, por exemplo, as últimas sociedades mesolíticas, conhecidas como concheiros, além da caça a grandes e pequenos herbívoros, mamíferos e aves, e a apanha de frutos e vegetais, incluíam também a pesca e principalmente a apanha de moluscos e crustáceos, como fonte de recursos alimentares. 
Seriam já comunidades semi-sedentárias, deslocando-se sazonalmente para os locais com maior disponibilidade de recursos. Sabe-se que já tinham domesticado o cão, que certamente os ajudaria na caça e quem sabe como guarda da comunidade.
A interação entre indígenas e colonos, pacífica ou não, terá existido, já que os dois modos de vida coexistiram durante algum tempo. 
Foram precisos mais de 500 anos para que todos adotassem o modo de vida neolítico e deixassem de existir caçadores/recolectores.

Anta do Vale do Beiró
Coruche
Neolítico Final / Calcolítico (3500 - 2000 a. C.) 

A construção de um monumento megalítico está diretamente relacionada com a fixação das populações num local. Senão, para quê o esforço de uma comunidade na construção de algo tão monumental, se depois fosse deixado para trás e não desempenhasse uma função real ou simbólica na vida dessa comunidade?


Cromeleque do Monte das Fontainhas
Mora
Imóvel de Interesse Público (1990)
Neolítico Antigo / Médio 


Nota: Apesar de o Alentejo ser a região de Portugal com maior concentração de monumentos megalíticos, especialmente o Alentejo central, alargámos um pouco essa geografia e deixámos aqui imagens de alguns monumentos localizados no Alto Alentejo e alguns que já fazem parte do Ribatejo.

Anta 1 do Paço
Montemor-o-Novo

Bibliografia:

Alvim, Pedro, Recintos megalíticos do ocidente do Alentejo central : arquitectura e paisagem na transição mesolítico/neolítico

Calado, Manuel. “Menires do Alentejo Central”- Vol. 1 - Tese de Doutoramento – (Universidade de Lisboa) 

Cardoso, João. (2007). Pré-História de Portugal. 

Carvalho, António. (2007). A neolitização do Portugal meridional no contexto mediterrâneo ocidental do VI milénio a.C.. 15. pp. 47-77.

Carvalho, António & Gibaja, Juan & Arroyo, Eduardo & Bicho, Nuno & Cardoso, João & Cerrillo-Cuenca, Enrique & Sánchez, Miguel & Dean, Rebecca & Dubreuil, Laure & Fernandez Dominguez, Eva & Gavilán, Beatriz & Pacheco, Francisco & Gonzalez-Urquijo, Jesus & Ibáñez, Juan & Linstädter, Jörg & Martínez Fernández, Gabriel & Palomo, Antoni & Peña-Chocarro, Leonor & Rojo, Manuel & Zapata, Lydia. (2010). The last hunter-gatherers and the first farming communities in the South of the Iberian Peninsula and North Morocco: a socio-economic approach through the management of production instruments and explotation of the domestic resources: primeros resultados. 10.13140/RG.2.2.30256.23041.

Bicho, Nuno & Pereira, Telmo & Goncalves, Celia & Cascalheira, J. & Marreiros, Joao & Dias, Rita. (2013). Os últimos caçadores-recolectores do Vale do Tejo: novas perspectivas sobre os concheiros de Muge. Setúbal Arqueológica. 14. 57-68.

OLIVEIRA, Jorge de (2016) - Datas Absolutas para os menires do Alentejo Portugal. In XII Conferência Internacional Antropologia.

OLIVEIRA, J. (2016) - O menir do Patalou Nisa. Entre contextos e cronologias. In Terra e Água. Escolher sementes, invocar a Deusa. Estudos em Homenagem a Victor S. Gonçalves. (pp. 149166) Lisboa: UNIARQ.

Sites:

Comentários