Casas da Ribeira e as histórias que as pedras nos contam!

 


Bastava um para serem muitos, os que terão morrido ao tentar atravessar a pé a Ribeira de Eiras, para se deslocarem entre as freguesias vizinhas de Mação e Carvoeiro. 


Ribeira de Eiras em Casas da Ribeira

Ribeira de Eiras


Cansados de tais tragédias, três cidadãos de Mação decidiram fazer uma recolha de fundos para a construção de uma ponte.

Noventa mil reis foi em quanto ficou a obra, finalizada em 1778, mas a colecta arrecadada, entre esmolas e ofertas dos moradores, não foi além dos sessenta mil reis, mesmo assim uma fortuna para a época.


Ponte da Ribeira de Eiras ou Ponte Velha

Ponte da Ribeira de Eiras ou Ponte Velha

Vai daí que foi enviada uma petição à Rainha D.Maria I, a solicitar que esta lhes “concedesse provisão” da restante verba, para que pudessem ser pagos os mestres e obreiros da dita ponte. 

A monarca foi sensível ao apelo e ordenou o pagamento da verba, mas não devemos esquecer que grande parte dos custos da Ponte de Casas da Ribeira ou Ponte Velha, foi suportado pelos habitantes da região.


Ponte da Ribeira de Eiras

Ponte da Ribeira de Eiras


Um pequeno monumento à memória dos que ali faleceram, ainda hoje persiste junto à pequena aldeia de Casas da Ribeira. 
Chamam-lhe de Alminhas da Ribeira d'Eiras e o branco imaculado da cal que o recobre, contrasta com o vermelho e cinza dos xistos que lhe servem de cabeceira. 
A imagem original do Senhor das Almas, feita em bronze, desapareceu, mas lá continuam outras sacras imagens, as velas, as flores e a caixa das esmolas, guardadas atrás das grades, não vá o Diabo tecê-las.

Alminhas da Ribeira d'Eiras


Estas histórias da Ponte Velha e do monumento das Alminhas, serão sobejamente conhecidas nesta zona que administrativamente ainda pertence ao Ribatejo.
Mas o que possivelmente muitos não sabem, é que as rochas sobre as quais assenta a aldeia de Casas da Ribeira, as rochas com que construíram moinhos, casas e muros e que serviram de material de construção para a Ponte Velha, são das mais antigas que existem em Portugal.  


Muros de pedra


Terão mais de 550 milhões de anos, um tempo extremamente difícil de imaginar....!!!
  
Nessa era longínqua, toda a região das Beiras, a zona Norte de Portugal, o Alto Alentejo e algumas regiões do interior de Espanha, faziam parte de uma extensa fossa marinha que rasgava o bordo Norte do supercontinente Gondwana, lá em baixo, quase no pólo sul.


Rochas formadas numa fossa marinha
à mais de 500 milhões de anos


Durante um longo período de tempo, os sedimentos foram-se acumulando no fundo dessa enorme fossa marinha. 
Depois de consolidados transformaram-se em rochas sedimentares que foram metamorfizadas, arrastadas, dobradas e erodidas até que aparecem hoje em Portugal, na forma de xistos, filitos e grauvaques, que utilizamos como materiais de construção.


As rochas do Complexo Xisto-grauváquico
em Casas da Ribeira


São estes fundos marinhos transformados em pedra que fazem as típicas paisagens das nossas aldeias de xisto, que maravilham os de cá e os que vêem, mas que infelizmente continuam a ficar cada vez mais esquecidas e ao abandono.



Litologia:
Complexo Xisto-Grauváquico (CXG), Grupo das Beiras, Unidade de Padrão – Silveira: Metagrauvaques grosseiros intercalados de filitos listrados e conglomerados.




Bibliografia:

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