Ruínas Romanas de Tróia - Os Romanos na foz do Sado


Ruínas Romanas de Tróia



A região do Baixo Sado tem uma longa tradição de actividades ligadas ao mar. Desde o neolítico que os seus habitantes se dedicavam à pesca, à apanha de moluscos e à extracção de sal.

A partir do séc. VIII a.C., chegaram os navegantes Fenícios e mais tarde os Cartagineses ou Púnicos, que a par das actividades comerciais, mantiveram uma intensa interacção cultural com a população indígena.

Feitoria Fenícia de Abul
entre Alcácer do Sal e Setúbal


Beuipo, um possível nome pré-romano de Alcácer do Sal, tornou-se então numa importante cidade portuária, onde já se cunhava moeda, e onde chegavam não só artigos, mas também gentes, de vários pontos do Mediterrâneo.

Em meados dos século II a.C., os romanos chegaram à região e  reforçaram o poder da já importante cidade multi-cultural de Beuipo, elevando-a à categoria de município e dando-lhe o nome de Salacia Urbs Imperatoria.

Salacia era o nome romano
de Alcácer do Sal


Terá sido na época do imperador  romano Tibério, num período de estabilidade e  prosperidade resultantes da Pax Romana implementada pelo seu antecessor Augusto,  que os romanos decidiram intensificar a exploração dos recursos desta região da Orla Atlântica do Império.

Além de se encontrar junto a uma costa muito rica em peixe, e de produzir sal com muita qualidade e quantidade, no estuário do Sado também existiam muitas madeiras e barreiros, essenciais para o fabrico de barcos e para o funcionamento de olarias.
Estavam pois reunidas as condições ideais para o estabelecimento de fábricas de preparados de peixe.

Estuário do Sado

Nesta região, foram encontradas cetárias  tanto na baixa de Setúbal (a Cetóbriga romana), como no litoral da Serra da Arrábida, junto à praia do Creiro, ambas datadas do séc. I d.C..

Cetárias na baixa de Setúbal

Ruínas do Creiro


Mas foi em Tróia que foi construído um grande centro de produção,  que se viria a tornar o maior complexo industrial de preparados piscícolas conhecido em todo o império romano, e do qual apenas uma pequena parte está a descoberto nas RUÍNAS ROMANAS DE TRÓIA.



Ruínas Romanas de Tróia
(oficinas de salga 1 e 2)



As Oficinas de produção de preparados de peixe


Ainda não se conhece o nome romano do aglomerado industrial de Tróia, mas pensa-se que foi planeado e construído de raiz, dividido em lotes, separados por ruas estreitas, onde as fábricas de salga de  peixe seriam instaladas.

Até à data,  foram ali identificadas 25 unidades de produção (oficinas) que, da primeira metade do século I à primeira metade do século V, faziam a salga do peixe e preparavam diversos molhos, entre os quais o famoso e caro garum, que eram depois exportados para vários locais do Império, inclusive Roma.

No sitio arqueológico de Tróia, a área visitável mostra duas unidades de produção (oficinas I e II) que no inicio do séc I d.C. estariam ligadas, formando uma grande fábrica.

Oficina 1
Ruínas Romanas de Tróia

Na oficina I, que se encontra parcialmente escavada, é possível observar 19 tanques ao longo de três das suas quatro paredes e um poço da primeira metade do século II, construído no meio do pátio.

Poço da oficina 1
Ruínas Romanas de Tróia

As oficinas eram espaços murados e cobertos, com um pátio interior, à volta do qual se encontravam os tanques (cetárias).
Era nestes tanques que vários tipos de peixe, depois de devidamente limpos e cortados, eram postos a salgar durante vários meses.

Tanques de salga
Ruínas Romanas de Troia

Oficina 2
Ruínas Romanas de Tróia

As vísceras e sangue dos peixes maiores, peixe mais pequenos como a sardinha ou o carapau, moluscos e temperos vários, eram envoltos em bastante sal e ficavam em repouso cerca de dois meses, até ficarem liquefeitos.
Deste processo resultavam vários molhos  entre os quais o Garum, um molho salgado, grosso e amarelado, que era muito apreciado e utilizado na culinária romana, especialmente nas classes mais abastadas, devido ao seu alto preço.

Restos de garum retirados do fundo de uma cetária em Tróia
Em exposição no centro interpretativo das ruínas

Tanques ou cetárias da oficina 2
Ruínas Romanas de Tróia

Tanques ou cetárias da oficina 1
Ruínas Romanas de Tróia

Os tanques de salga romanos eram revestidos com uma argamassa especial e tinham os bordos arredondados, o que proporcionava uma boa impermeabilização e fácil limpeza.

Oficina 1
Ruínas Romanas de Tróia

No final do século II, por motivos ainda desconhecidos, a produção em Tróia parece ter sido interrompida e algumas oficinas terão sido mesmo abandonadas.
A partir do segundo quartel do século III, a produção foi restabelecida mas com uma visível reestruturação e reorganização dos espaço: as oficinas I e II, por exemplo, foram separadas e alguns dos seus tanques, divididos em tanques mais pequenos.
Com mais ou menos adaptações e reestruturações ao longo dos séculos, a produção de preparados de peixe nas fábricas de Tróia terá durado até meados do século V.

Alguns tanques de salga que inicialmente teriam tamanho igual
 posteriormente foram divididos em tanques mais pequenos
Oficina 1
Ruínas Romanas de Tróia

Pequeno edifício com lance de escadas

Num local ainda em escavação, é possível observar uma oficina com tanques de salga de grandes dimensões, em cujo pátio terá sido construído um pequeno edifício com um lance de escadas, que dariam acesso a um andar superior.
Nesta mesma oficina, foram descobertos fornos de adobe e uma mó, dentro de dois tanques, o que sugere que, após o término da produção de salgas, estes terão sido reaproveitados possivelmente para o fabrico de pão.

Fornos tardios colocados dentro
de tanques após o término da produção

A enorme quantidade de produtos piscícolas preparados em Tróia, as salgas de peixe, o garum e outros molhos,  tinham de ser devidamente embalados em ânforas, para seguirem por barco para todo o império.
Ao longo da margem direita do Sado, surgiram várias olarias que forneciam Tróia com estes contentores cerâmicos destinados à exportação.

Restos de ânforas encontradas no armazém das ânforas em Tróia
Em exposição no centro interpretativo das ruínas

Contígua à oficina II foi descoberta uma área que seria o armazém da grande fábrica a que pertencia essa oficina. Os preparados piscícolas, depois de prontos e embalados, seriam aqui armazenados até seguirem para o porto, com destino às várias províncias do mundo romano.
Nesse espaço, a que chamaram armazém das ânforas, foram encontradas algumas ânforas ainda encostadas a uma parede.

Réplicas de ânforas piscícolas (da esquerda para a direita):
Sado 1, Dressel 14 e Almagro 51C

As ânforas piscícolas  foram-se adaptando, modificando e evoluindo ao longo do tempo, adquirindo características distintas, o que permite conhecer a época e o local onde foram fabricadas.
Na oficina I das Ruínas Romanas estão em exposição três réplicas das ânforas mais utilizadas  em Tróia.



As Termas


Um hábito extremamente enraizado na cultura romana era a ida aos banhos e eles também estão presentes em Tróia.

O espaço termal encontra-se de certa forma interligado com a oficina I, pelo que foi posta a hipótese de as termas terem sido construídas pelo proprietário da fábrica, para uso do pessoal que ali trabalhava.
Outra justificação para a localização das termas é a de que o calor proveniente das fornalhas serviria também como apoio à produção dos molhos, acelerando o processo de maceração do peixe.

Termas
Ruínas Romanas de Tróia

Seja como for, e tal como a maioria das termas romanas, as termas de Tróia apresentam várias divisões, desde espaços para convívio até às zonas de banhos propriamente ditos. 
As termas de Tróia sofreram remodelações e ampliações ao longo do tempo. As zonas quentes do caldariumtepidarium  serão as mais antigas.

Termas - Caldarium
uma das piscinas de água quente

O caldarium, a zona mais quente das termas, era composto por duas salas muito quentes e húmidas onde  existiam umas estruturas semi-circulares, projectadas para fora do edifício (absides), onde estavam instaladas as piscinas de água quente. 
O ar quente do caldário provinha de uma fornalha que era alimentada provávelmente por escravos, na zona de serviço do complexo termal. O ar quente circulava sob o pavimento da sala através de um sistema de aquecimento denominado hipocausto.

Termas - Tepidarium

Ao lado do caldarium encontrava-se o tepidarium. Por estar mais distante da fornalha, o ar do tepidarium era … tépido. 
O tepidário de Tróia apresenta os restos de uma estrutura semi-circular, que poderia ser o suporte de uma espécie de bacia circular, muito usada no mundo romano – o labrum.

Termas - Frigidarium
Piscina rectangular

A seguir ao tepidarium entrava-se no frigidarium para tomar o banho frio, que servia para fechar os poros dilatados do calor. O frigidário de Tróia era uma sala quadrangular na qual existiam duas piscinas de água fria, uma rectangular e outra em forma de ferradura, onde ainda são visíveis restos de mármore do seu revestimento.

Termas - Apodyterium
(vestiário)

Nos inícios do século III d.C., um tanque da oficina I  foi convertido numa divisão das termas - o apodyterium.  Esta divisão, rodeada por um banco de alvenaria, era o local onde os banhistas deixavam as suas roupas e os seus pertences, antes de ir a banhos.

Termas - Palaestra
A Sala dos Três Pilares

Mais tarde, foi construída uma grande sala, a chamada Sala dos Três Pilares, que servia de espaço de convívio e onde se podia praticar algum exercício físico (Palaestra). As suas paredes  rebocadas a cinzento, eram decoradas com pinturas.

Cisterna

O abastecimento de água às termas era feito por um aqueduto que conectado a um poço ainda hoje visível, levava a água até uma grande cisterna.

As termas de Tróia foram descobertas em  1856 e existem relatos de salas, colunas e banheiras revestidas de mármore, pavimentos com mosaicos, e outras formas de arte. Infelizmente, o abandono e os actos de vandalismo,  contribuíram para o empobrecimento do património que podemos ver hoje.



As zonas residenciais


Os edifícios que se podem englobar nesta categoria e que são visitáveis em Tróia, correspondem ao chamado núcleo residencial da Rua da Princesa.

Rua da Princesa
Ruínas Romanas de Tróia

A sua escavação que teve lugar no séc. XVIII, foi patrocinada pela ainda infanta e futura rainha D. Maria I, após uma visita a este local, que lhe faz referência.
Muito do espólio encontrado nesta zona foi oferecido a vários nobres e pessoas ilustres, sendo que o rasto da maior parte das peças dessas colecções particulares perdeu-se completamente.

Rua da Princesa
Ruínas Romanas de Tróia

Os vestígios de habitações datadas do séc. IV, encontrados nesta área residencial, apontam para construções alinhadas ao longo de uma rua, com pelo menos dois andares, e que, segundo os registos da Sociedade Arqueológica Lusitana referentes a escavações efectuadas no século XIX, teriam as paredes do segundo andar decoradas com pintura mural  e pavimentos em mosaico. 

Rua da Princesa
Ruínas Romanas de Tróia

Possivelmente poderia tratar-se de prédios de habitação, as insulae, para albergar as muitas gentes que viveriam no grande aglomerado populacional em que Tróia se teria tornado. Ultimamente surgiu porém a hipótese de se tratar de uma grande domus com pátio interior, própria de pessoas mais abastadas.
Mas a Rua da Princesa não será certamente a única área residencial de Tróia, apenas a que está escavada até ao presente.



A água

Sem a existência de água potável, não era possível a implementação de uma cidade industrial em Tróia.

Poço
Orla do estuário do Sado
Ruínas Romanas de Tróia

Os romanos captavam a água do subsolo através de uma grande quantidade de poços cujos vestígios são abundantes nas ruínas. Em Tróia existe também uma estrutura muito comum no mundo romano - a roda de água ou rota aquaria.

Roda de Água
Ruínas Romanas de Tróia



As crenças dos vivos e as moradas dos mortos


Tróia foi certamente ao longo dos séculos, um local de encontro de gentes e culturas, e testemunhos dessas realidades podem ser encontrados nas manifestações religiosas e nas várias maneiras de encarar a morte. 
Um aglomerado industrial destas dimensões teria certamente uma população considerável e, havendo muitos vivos … haveria também um número assinalável de óbitos.

Caldeira - Tróia

O espaço mais antigo usado pela população da Tróia Romana para enterrar os seus mortos, estaria localizado na margem da Caldeira, possivelmente numa zona um pouco afastada da urbe, como era usual na tradição romana. A tábua X da Lei das XII tábuas, uma legislação dos anos 450/451 a.C. que está na origem do direito romano, diz "não ser  permitido sepultar nem incinerar um homem morto na cidade".
Esse espaço foi  escavado nos anos 40 e 60  do século XX e o seu enorme espólio, totalmente retirado do local, está depositado no Museu de Arqueologia em Lisboa.

A Necrópole de Caldeira começou a ser utilizada logo em meados do séc. I d.C. numa época em que os romanos praticavam a incineração (cremação), pois acreditavam que os corpos impuros dos mortos eram purificados através do fogo.
Na segunda metade do séc. II d.C.,  o modo como a morte era encarada começou a mudar e começam a aparecer rituais de inumação, que simbolizam um retorno à Terra Mãe.

Mausoléu
Ruínas Romanas de Tróia

Em Tróia, no Mausoléu, é possível reconhecer estas duas maneiras de lidar com a morte: na parte superior encontram-se vários nichos destinados às urnas com as cinzas dos defuntos (Columbário) mas em baixo, sob o pavimento, encontram-se já sepulturas de inumação.
O Mausoléu terá sido construído em finais do séc. II, inícios do séc. III d.C, em plena zona de oficinas de salga, o leva a crer que este espaço estaria abandonado e sem perspectivas de um regresso à produção.

Mausoléu
Ruínas Romanas de Tróia

O ritual de incineração foi completamente abandonado a partir do início do séc. III d.C., e foi durante este século e nos inícios do seguinte que se realizaram em Tróia vários enterramentos infantis em ânforas, que são normalmente associados a uma tradição funerária Africana.
A maioria das ânforas encontradas neste contexto funerário são ânforas típicas do Vale do Sado que eram quebradas propositadamente para permitir a introdução do cadáver.

Zona da necrópole da Basílica
Ruínas Romanas de Tróia

A norte das ruínas romanas de Tróia, perto do degradado edifício que foi o Palácio Sotto Mayor, existiu uma grande oficina de salga que terá sido abandonada na primeira metade do século IV. Parte dessa oficina,  juntamente com o espaço ocupado por outras estruturas situadas nessa área, terão sido aproveitados como necrópole, a chamada Necrópole da Basílica,  onde foram descobertas muitas das famosas sepulturas de mesa ou mensae de Tróia.

Sepultura de mesa ou mensae rectangular
Ruínas Romanas de Tróia

A maioria das mensae descobertas até à data são sepulturas rectangulares, algumas com placas de mármore embutidas, cobertas com opus signinum, uma argamassa  misturada com cerâmica moída.

Perto dali, a sul da Ermida de Nossa Senhora de Tróia na chamada Necrópole das Mensae, foram encontradas mais sepulturas de mesa rectangulares e outras com uma forma semi-circular e uma depressão central - as chamadas mensae em sigma.

Zona da necrópole das mensae
Ruínas Romanas de Tróia

As sepulturas de mesa, tal como o seu nome sugere, serviam para que os familiares e amigos do defunto fizessem ali refeições e deixassem oferendas, alimentos e perfumes.
Hoje cobertas por areia, as mensae de Tróia são únicas em Portugal, raras na Lusitânia mas muito comuns no Norte de África.

Local do estuário onde foi encontrada uma mensae
com cabeceira com pintura mural cristã

Na orla do estuário do Sado, em risco de ser levada pela erosão das marés, foi identificada pela actual equipa de arqueologia, uma outra sepultura de mesa, já da segunda metade do século V, ou mesmo do VI.
Esta apresenta uma concavidade arredondada que ligava a um pequeno canal, sugerindo que os rituais de libação, ou seja, de verter líquidos como vinho, leite e outros sobre as sepulturas para que fossem sorvidos pelo defunto, ainda era praticado.
Na cabeceira da sepultura encontrava-se uma pintura mural cristã onde estavam representadas duas cruzes latinas. Esta pintura, em exposição no centro interpretativo das ruínas, poderia fazer parte da parede de um mausoléu ou pequena basílica.

Sepultura de mesa (mensae) cristã

O grande complexo industrial de Tróia terá entrado em declínio a partir do século V. 
As oficinas de salga foram abandonadas, a população certamente diminuiu, o lixo foi-se acumulando no fundo das cetárias.

Necrópole do Mausoléu
Ruínas Romanas de Tróia

Nas traseiras do mausoléu, nasce uma outra necrópole, desta vez com sepulturas em arca rectangular feitas com pedras e tijolos, mas também algumas mensae. Existem também vestígios do um edifício que serviria para um culto religioso.
Mas surgem também sepulturas espalhadas pelos tanques, pátios, ruas e edifícios. No final do séc VI, Tróia transformara-se num enorme cemitério.



A Basílica Paleocristã


Em finais do século IV, inícios do século V, terá sido construída uma das mais importantes e emblemáticas estruturas das Ruínas Romanas de Tróia, a Basílica Paleocristã, posta a descoberto em 1968/69.

Vista aérea da Basílica Paleocristâ
Ruínas Romanas de Tróia

A basílica Paleocristã, foi construída sobre outras estruturas que ali existiram em diferentes épocas e com diferentes funções, sendo que as mais antigas pertenciam a uma oficina de salga que juntamente com a zona envolvente foi mais tarde utilizada como local de enterramentos - a Necrópole da Basílica, referida anteriormente.

Posteriormente poderá ter existido outro edifício utilizado para outros cultos, já que  foi  ali encontrado um fragmento de um relevo mitraico  cujo culto, o mitraísmo, era muito popular entre os romanos. Esse fragmento faz parte do espólio de Tróia que se encontra no Museu Nacional de Arqueologia.
O facto de ter sido construída sobre uma necrópole, tal como muitos outros locais de culto cristão, reforça a sua identidade como um espaço dedicado ao cristianismo.

Interior da Basílica Paleocristâ de Tróia
(Foto cedida pela  Dra. Inês Vaz Pinto) 

A basílica apresenta um conjunto de magníficos frescos pintados nas suas paredes, com desenhos maioritariamente geométricos mas também com alguns elementos figurativos e vegetalistas.
Numa dessas pinturas estaria representado um crísmon, reproduzido num desenho de Marques da Costa em 1933, desenho esse que, tal como a pintura, desapareceu. A presença de um crísmon, símbolo cristão que representa as iniciais XP do nome de Cristo em grego, é uma evidência da utilização desta estrutura para o culto do cristianismo.

Fresco da Basílica Paleocristâ de Tróia
com representação de uma ave
(Foto cedida pela  Dra. Inês Vaz Pinto) 

Fresco da Basílica Paleocristâ de Tróia
com desenhos geométricos
(Foto cedida pela  Dra. Inês Vaz Pinto) 



O que resta saber sobre a Tróia Romana


Península de Tróia

Na época romana, a restinga arenosa de Tróia  seria ainda uma ilha conhecida por Ácala,  segundo a Ora Marítima de Avieno,  um escritor do século IV.

Nesse tempo Ácala,  tal como hoje Tróia,  era composta exclusivamente  por areia, de modo que, todo o material de construção necessário para erguer as fábricas, armazéns e outras estruturas, teve de ser transportado por mar. A brecha da arrábida, um tipo de rocha que existe exclusivamente na serra vizinha, é um material comummente usado nas construções de Tróia.


Inscrição Romana que faz referência a Cornelius Bocchus
encontrada em Alcácer do Sal
exposta na Cripta Arqueológica do Castelo

Em 1871, foi descoberta em Tróia uma placa honorífica, entretanto desaparecida, com uma inscrição que fazia homenagem a um cidadão nascido em Salacia, durante o reinado de Augusto, pertencente à poderosa e influente família dos Cornelii Bocchi.
Cornelius Bocchus, flâmine provincial e tribuno militar, seria pois uma figura proeminente do ponto de vista social e politico, mas também económico, aumentando o seu prestigio e fortuna em negócios muito rentáveis como a exploração de mármores, minérios e certamente a produção e exportação de preparados de peixe.

Por tudo isto, é muito possível que tenha sido Cornelius Bocchus, o grande impulsionador do grande centro industrial de Tróia.

Orla do estuário do Sado
"Ponta do verde"

A área exposta das Ruínas Romanas de Tróia, é uma ínfima amostra do grande aglomerado urbano/ industrial que era a Tróia Romana.
Seria certamente um local movimentado, com armazéns, escritórios, casas, pelo menos um porto onde atracariam pequenas embarcações carregadas de peixe, sal, ânforas, objectos de uso diário, alimentos, materiais de construção, homens livres e escravos vindos de muitas partes do Império.

Orla do estuário do Sado
Estrutura portuária??

As intervenções subaquáticas realizadas até à data, identificaram uma grande depressão sensivelmente a meio do Sado entre Tróia e Setúbal. Conhecido por fundeadouro de Tróia, esse poderia ser o local onde as embarcações fundeavam, e onde as mercadorias eram carregadas e descarregadas com o apoio de pequenas embarcações, capazes de aportar em zonas pouco profundas, como as margens de Tróia.
O porto de Tróia, assim como outros portos dessa época, seria construído em madeira, um material de muito difícil conservação e que, por isso, deixa poucos ou nenhuns vestígios. No entanto, na orla do estuário, existe uma estrutura que, pela grande espessura dos seus muros, pensou-se que pertenceria a uma estrutura portuária, sendo essa hipótese actualmente contestada.

Orla do estuário do Sado
"Ponta do verde"

Orla do estuário do Sado
"Ponta do verde"

Ao longo de 1,5 Km da costa do estuário do Sado, ainda são visíveis partes de cetárias, poços, muros, restos de edifícios, mas também inúmeros fragmentos de telhas e tijolos, de cerâmica e de ânforas.

Orla do estuário do Sado

Orla do estuário do Sado

Orla do estuário do Sado

Objectos metálicos como anzóis dos mais variados tamanhos e agulhas para coser redes de pesca, fazem adivinhar a diversidade de peixe capturado e transformado nos inúmeros tanques da ilha.

Anzóis e agulha de coser rede, em bronze,
encontrados na orla do Sado
nos inícios da década de 70 do século XX

Pregos em bronze
encontrados na orla do Sado
nos inícios da década de 70 do século XX

Conhecido desde o século XVI e alvo de várias escavações nos séculos XVIII, XIX e XX,  o sítio arqueológico de Tróia foi classificado como Monumento Nacional em 1910, mas esteve sempre ao abandono e foi vítima de actos de vandalismo ao longo de séculos.
O seu imenso espólio está espalhado por vários museus e outras entidades, bem como na posse de coleccionadores particulares e de muitos cidadãos comuns.

Orla do estuário do Sado
"Recanto do verde"

Em 2005, graças a um protocolo assinado entre o Grupo Sonae e o Estado Português, as ruínas romanas foram entregues a uma equipa de arqueologia encarregue da sua conservação, manutenção e valorização.
A área já valorizada das Ruínas Romanas de Tróia e aberta à visita do público em 2011 é hoje um espaço bem cuidado, onde o visitante é bem acolhido e informado sobre o que poderá ver.

Esperamos que não falte a vontade e os meios para a continuação deste projecto de valorização que, pelo que sabemos, além da inclusão de outras áreas no percurso de visita, inclui a construção de um espaço museológico junto às ruínas.

Ruínas Romanas de Tróia

A vastidão, a importância e o impacto que o centro industrial de preparados piscícolas de Tróia terá tido, não só na Lusitânia mas em todo o  império, ainda está e estará por descobrir, pelo que os capítulos que faltam no livro que conta a história de Tróia, terão de ser escritos ao longo de várias gerações. 




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Agradecemos à Equipa de Arqueologia do Tróia Resort,  a disponibilidade com que nos receberam. Um muito obrigado.


Problemática em torno da Basílica de Troia

Ruínas Romanas de Tróia: a valorização de um património singular

Tróia na Antiguidade Tardia.

Uma história resgatada ao mar. Vestígios das rotas marítimas romanas nas costas portuguesas.



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