Formação de Vale de Fontes - O Jurássico Inferior na Bacia Lusitaniana
A Formação de Vale de Fontes, está representada em praticamente toda a Bacia Lusitaniana mas apresenta uma maior espessura em Peniche (cerca de 90 metros) e cerca de 80 metros em São Pedro de Moel.
Esta formação de cores muito acinzentadas, que se sobrepõe aos calcários da Form. Água de Madeiros, marca o retorno à alternância de margas e calcários margosos, com horizontes muito ricos em matéria orgânica.
Este tipo de sedimentação sugere um aumento da profundidade das águas do mar e condições de anoxia (défice de oxigénio) que permitiram a preservação da matéria orgânica.
Estratos da Formação de Vale de Fontes |
Nesta formação são frequentes os fósseis de belemnites, braquiópodes, bivalves e crinoides.
Rostro e fragmocone de belemnite |
Fragmocone de belemnite |
Braquiópode |
Também se podem encontrar muitos restos vegetais fossilizados, como troncos e ramos de árvores que terão sido arrastados e preservados no fundo marinho.
Restos vegetais |
Restos vegetais |
A Formação de Vale das Fontes tem cerca de 191 milhões de anos.
Está datada entre o Pliensbaquiano inferior (Carixiano) e inicio do Pliensbaquiano superior (Domeriano), é subdividida em três membros:
Está datada entre o Pliensbaquiano inferior (Carixiano) e inicio do Pliensbaquiano superior (Domeriano), é subdividida em três membros:
- Margas e calcários com Uptonia e Pentracinus (MCUP) - datado da biozona Jamesoni;
- Margas e calcários grumosos (MCG) - datado da parte terminal da biozona Jamesoni até à biozona Ibex;
- Margo-calcários com níveis betuminosos (MCNB) - datado da parte terminal da biozona Ibex (subzona Luridum) ao topo da biozona Margaritatus.
No decurso do Jurássico, grande parte da Europa assemelhava-se a um grande arquipélago rodeado por dois "mares" perfeitamente distintos, não só ao nível da profundidade ou da temperatura das águas, mas também em relação à fauna de amonites e de outros organismos marinhos como as belemnites, ostracodos, etc.:
- A NW, o grande mar europeu, epicontinental, formado entre os continentes Laurasia e Gondwana quando da separação de Pangea no inicio do Triássico, que a nível faunístico se considera de domínio Boreal;
- Onde hoje está o mar mediterrâneo encontrava-se o mar de Tethys, em expansão para ocidente, que a nível faunístico se considera de domínio Tetsyano.
A "Ibéria", constituía uma ilha a sul desse grande arquipélago, com uma particularidade: era banhada a oeste por um mar sub-boreal, que prefigurava o actual Oceano Atlântico, e a sul por águas tetsyanas que invadiam a parte sul do Maciço Ibérico e o norte da meseta marroquina, ligando-se ao Atlântico Central.
As Amonites
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Microderoceras Membro MCUP da Formação de Vale de Fontes |
Algumas dessas amonites, essencialmente Polimorfitídeos como as Platypleuroceras, Polymorphites, Uptonia, e Acanthopleuroceras, podem ser encontradas no membro basal da Formação de Vale de Fontes.
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Fenómenos de endemismo na fauna de amonites, tal como já havia acontecido com as Ptycharietites da Formação de Coimbra, repetem-se no inicio do Pliensbaquiano, o que leva a supor que a Bacia Lusitaniana terá sido, por alguns períodos de tempo, uma bacia isolada.
No entanto, não é possível saber se esse isolamento se limitava à Bacia Lusitaniana ou se se estendia às bacias periatânticas vizinhas, pois estas últimas encontram-se submersas, o que impossibilita o seu estudo.
Dayiceras (Biozona Ibex) Membro MCG da formação de Vale de Fontes |
As amonites do género Dayiceras são um exemplo notável desse endemismo.
Estas amonites são muito abundantes durante o Carixiano médio (biozona Ibex) na Bacia Lusitaniana, incluindo cinco a seis espécies. No entanto, apenas uma destas espécies é também conhecida fora desta bacia: Dayiceras polymorphoides.
Dayiceras (Biozona Ibex) Membro MCG da formação de Vale de Fontes |
Além de Dayiceras, o membro intermédio desta formação, inclui vários géneros de amonites como Metaderoceras, Acanthopleuroceras, e outras.
A fauna de amonites nas últimas camadas do membro MCG da formação de Vale de Fontes |
A base do Domeriano (biozona Margaritatus- subzona Stokesi) é caracterizada na bacia lusitaniana pela primeira invasão de amonites com afinidades tetsyanas como as Protogrammoceras.
Protogrammoceras Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Protogrammoceras Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Protogrammoceras Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Estas amonites tetsyanas migraram em direção à europa sub-boreal ao mesmo tempo que faunas do Nw europeu se deslocam para sul como é o caso das Amaltheus.
Supõe-se assim que durante o Carixiano médio – Domeriano inferior tenha havido uma transgressão desses dois mares, facilitando a dispersão das faunas ao largo da "Ibéria".
Amaltheus Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Amaltheus Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Amaltheus e restos de crinoides Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Cymbite Familia Cymbitidae |
No último membro da formação de Vale de Fontes (Margo-calcários com níveis betuminosos (MCNB), também estão presentes outros espécimes da sub-ordem Ammonitina, como as minúsculas Cymbites, as Liparoceras e Aegoceras e vários géneros da familia Dactylioceratidae.
Amonite (Familia Dactylioceratidae) Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Amonite (Familia Dactylioceratidae) Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Amonite (Familia Dactylioceratidae) Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Apresenta também amonoides de outras sub-ordens como as Lytoceras e Tragophylloceras.
Tragoplylloceras Familia Juraphyllitidae Membro MCNB da formação de Vale de Fontes |
Transição entre as Formações de Vale de Fontes e Lemede Praia do Portinho da Areia do Norte (Peniche) |
À Formação de Vale de Fontes sobrepõe-se a Formação de Lemede com grande representatividade em Peniche entre a praia do Portinho da Areia do Norte e a Praia do Abalo.
Às camadas cinzentas escuras da Formação de Vale de Fontes sobrepõem-se os calcários amarelados da Formação de Lemede |
Bibliografia:
Jean-Louis Dommergues, Christian Meister. Ammonites du Jurassique inférieur (Hettangien, Sinémurien, Pliensbachien) d'Afrique du Nord (Algérie, Maroc et Tunisie). Atlas d'identification des espèces. Revue de Paléobiologie. Museum d'Histoire Naturelle de la Ville de Geneve, 2017, 36 (2), pp.189-367.⟨10.5281/zenodo.1144068⟩⟨hal-01705754⟩
MOUTERDE, R.; DOMMERGUES, J. L.; ROCHA, R. B.. Atlas des fossiles caractéristiques du lias portugais II - Carixien.Ciências da Terra / Earth Sciences Journal, [S.l.], v. 7, sep. 2014. ISSN 2183-4431. Available at: http://cienciasdaterra.novaidfct.pt/index.php/ct-esj/article/view/327, Date accessed: 14 may 2019.
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