Jazida de pegadas de dinossauros da Serra dos Mangues
Este é mais um testemunho da presença dos habitantes do Jurássico na região Oeste de Portugal.
A norte de São Martinho do Porto, a Serra dos Mangues é uma área toda ela riquisima em icnitos - as marcas provocadas pelas patas de dinossauros que por aqui caminharam durante o Jurássico Superior, mais propriamente no Kimmeridgiano há pelo menos 152 milhões de anos.
Na zona litoral da Serra dos Mangues, numa área relativamente pequena, deparamos com a existência de três jazidas de icnofósseis, encontrando-se todas elas em estratos sedimentares diferentes.
Nas camadas mais inferiores e por consequência mais antigas, situa-se a Jazida de pegadas de dinossauros da Praia do Salgado, já publicada no nosso Blog.
Em camadas superiores encontramos a Jazida da Serra dos Mangues, à qual dedicamos este post, e também a por nós intitulada como "Jazida do Miradouro", que pretendemos futuramente documentar.
Nas camadas mais inferiores e por consequência mais antigas, situa-se a Jazida de pegadas de dinossauros da Praia do Salgado, já publicada no nosso Blog.
Em camadas superiores encontramos a Jazida da Serra dos Mangues, à qual dedicamos este post, e também a por nós intitulada como "Jazida do Miradouro", que pretendemos futuramente documentar.
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Pegada de dinossauro do Jurássico superior |
A jazida de icnitos da Serra dos Mangues situa-se numa vasta laje de rocha calcária que se encontra actualmente com uma inclinação considerável, devido às mesmas forças que durante milhares de milhões de anos moldaram, e ainda hoje moldam, o nosso planeta.
Quando estes animais do Jurássico Superior por aqui passaram e nos deixaram o registo das suas passadas, fizeram-no num terreno possivelmente composto por lamas carbonatadas, com elevada concentração de água, que faziam parte de uma superfície costeira plana e sujeita à acção das marés de um mar epicontinental, de águas quentes e pouco profundas.
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Vista da Jazida de Mangues |
A grande percentagem da jazida encontra-se coberta de terra e arvoredo, ocultando provavelmente a maioria das pegadas. Mas em quase todas as zonas da laje que hoje se encontram a descoberto, são encontradas depressões provocadas por dinossauros.
É na sua vertente norte que as pegadas são visíveis em maior número, possivelmente devido à passagem de cursos de águas das chuvas que ao longo dos anos limparam a zona, colocando a descoberto algumas impressões em bom estado de conservação.
Mesmo assim, muitas mais continuam tapadas, apenas se observando as formas arredondadas e os rebordos provocados pela pressão dos membros ao pisar o solo lamacento.
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Pegada de terópode de médio porte coberta de sedimentos avermelhados |
Algumas das pegadas retêm ainda no seu interior o que aparenta ser vestígios da camada sedimentar seguinte, de cor avermelhada, que as preservou. Noutras, a rocha que as envolve encontra-se literalmente a desfazer-se em pequenas fragmentos, desfigurando a forma de algumas impressões que, num curto espaço de tempo, acabarão mesmo por desaparecer para sempre.
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Pegada de terópode de médio porte, condenada a desaparecer num curto/médio prazo devido à degradação da rocha envolvente |
No entanto ao seguirmos a direcção de uma pegada tentando encontrar os seus pares, somos quase de imediato confrontados com a existência de uma pegada pertencente a outro animal. Algumas pegadas cruzam-se, sobrepõem-se e apontam para varias direcções, demonstrando assim a enorme afluência de "tráfego jurássico" que se fazia sentir por estes lados.
Outra razão prende-se com o mau estado de conservação de algumas marcas que tornam impossível confirmar se pertence ao mesmo animal da que a antecede, isto para não falar que a maioria das pegadas se encontram soterradas tornando-se em autenticos canteiros de ervas e arbustos.
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Um passo de peso |
Por aqui circularam gigantes.
Na imagem em cima avistamos duas magníficas marcas em bom estado de conservação, deixadas por um dinossauro carnívoro de grandes dimensões. Com 61 cm de comprimento, são as maiores pegadas de terópode que hoje podemos admirar na jazida da Serra dos Mangues.
Em primeiro plano a imagem apresenta a marca deixada pela pata esquerda, com a pata direita à sua frente em segundo plano, representando assim um único passo deste peso pesado do Jurássico superior.
Na imagem de baixo, para além da relação de tamanhos entre a mão humana e esta pegada, chamamos a atenção para a desproporcional largura do digito III (dedo do meio) que se apresenta invulgarmente fino.
Uma possível explicação para o sucedido prende-se com a alta concentração de água no solo, tornando-o altamente maleável, o que faz com que apartir do momento que o animal retirou a pata do terreno, o espaço que era ocupado por esta começa a ser preenchido pelas lamas que a envolviam.
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Marca da pata esquerda de um terópode de grandes dimensões |
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Vista da impressão deixada por um grande terópode |
Nesta sequência de imagens, apresentamos uma marca isolada produzida por um grande terópode, que se encontra alguns metros à frente das duas pegadas referidas em cima.
Aparenta ser ligeiramente mais pequena que as anteriores e existe um desfasamento de cerca de 40º entre as suas direcções, mas mesmo assim achamos prematuro afirmar que se trata de uma pegada referente a outro animal.
A viscosidade do solo neste local poderá ter alterado um pouco o tamanho da impressão e nada nos garante que o dinossauro não tenha mudado de direcção.
Como se vê nas imagens, toda a área envolvente encontra-se coberta de terra e vegetação e sem se proceder à sua limpeza, será difícil tirar qualquer ilação.
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Impressão deixada por um grande terópode |
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Pegada produzida por terópode de modestas dimensões |
Não foram só os gigantes que aqui deixaram as suas impressões.
Na imagem em cima podemos visualizar uma pegada com apenas 18 cm de comprimento, e apesar de nesta jazida não ser raro avistar pegadas de pequenos/médios terópodes, esta é certamente a pegada mais pequena que até à data podemos testemunhar.
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Um pequeno e um médio terópode que caminhavam em direcções opostas |
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Impressão da mão e do pé de um saurópode |
Se bem que não se consigam distinguir longos trilhos, existem algumas pegadas ovais, que representam a impressão do pé, associadas a pegadas em forma de crescente, que representam a impressão da mão, características dos Saurópodes - os dinossauros herbívoros de longas caudas e pescoços muito compridos.
Os saurópodes que por aqui passaram deixaram inúmeras impressões difíceis de identificar, seja pelo seu mau estado de preservação, seja porque a camada calcária onde se encontram se está a desfazer, ou ainda porque se encontram tapadas com terra e vegetação.
No entanto, a forma arredondada de algumas depressões, com o rebordo provocado pelo pressão da pata no solo, dá origem à suspeita de se tratar de pegadas mal preservadas. E a confirmar-se essa suspeita, é impressionante a quantidade de dinossauros que foram deambulando, sem uma direcção definida, pelas margens de um mar calmo, possivelmente com vegetação abundante que pudesse suportar a existência destes gigantes.
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Pegadas de saurópode e pequenos terópodes |
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Imagem de pegadas de terópodes de média e grandes dimensões |
A equipa do "Portugal em Pedra" visitou a jazida da Serra dos Mangues em diversas ocasiões e, o que mais nos surpreendeu, foi a enorme diversidade de marcas que aqui podemos encontrar.
Por aqui caminharam saurópodes, passaram terópodes dos mais variadíssimos tamanhos dirigindo-se em quase todas as direcções e, como se isso não fosse suficiente, em certos locais da jazida, podemos avistar impressões que aparentam ter sido produzidas por ornitópodes.
Deparar-nos com a existência destes três tipos de dinossauro na mesmo jazida não é comum, em norma os terópodes aparecem associados numa relação predador/presa, com saurópodes ou ornitópodes separadamente.
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A pegada da dúvida |
Nas duas imagens que apresentamos em cima e em baixo, mostram duas pegadas que distam alguns metros entre si. Os dois animais dirigiam-se na mesma direcção e a sua posição no solo é semelhante, existindo uma relação idêntica entre o comprimento e a largura das impressões. Por estas e outras razões julgámos estar na presença de marcas produzidas por ornitópodes.
Na verdade a pegada que vemos na imagem de cima não é o que nos aparentava ser: os dígitos IV e III seriam mais compridos do que parecem ser na impressão, e a razão é que as suas extremidades em virtude de terem menos diâmetro e menor superfície foram cobertas pelo solo lamacento. Actualmente julgamos trata-se da pata esquerda de um terópode de médio porte.
Na imagem em baixo apresentamos o que nos sugere ser uma característica pegada de ornitópode: os seus dedos são largos e curtos em relação à largura da pata e apresentam o que parecem ser almofadas de forma oval.
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Pegada de terópode |
Mas podemos observar o legado que nos deixaram, fechar os olhos e imaginar para onde iam..., de onde vinham..., o que por aqui andavam a fazer?. Seria uma rota migratória, um local de caça, ou simplesmente iam de passagem em busca de outro território?
A jazida da Serra dos Mangues é uma caixinha de surpresas e não queríamos terminar este post sem falar de uma curiosidade aqui encontrada.
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