Pegadas de dinossauros em Pedras Negras
Entre Salir do Porto e a Foz do Arelho, o litoral português é composto pelas arribas da Serra de Bouro.
Se sairmos da Estrada Atlântica e nos aventurarmos pelos múltiplos caminhos que vão até à costa, deparamos com uma vista magnífica desde Peniche até à Nazaré, onde um mar imenso é apenas interrompido pelas ilhas graníticas das Berlengas, Estelas e Farilhões, vestígios de antigas montanhas há muito desaparecidas.
Se sairmos da Estrada Atlântica e nos aventurarmos pelos múltiplos caminhos que vão até à costa, deparamos com uma vista magnífica desde Peniche até à Nazaré, onde um mar imenso é apenas interrompido pelas ilhas graníticas das Berlengas, Estelas e Farilhões, vestígios de antigas montanhas há muito desaparecidas.
"Pedras Negras" na Serra de Bouro |
Num local conhecido por "Pedras Negras", perto de Salir do Porto, as rochas aflorantes têm entre 157 e 152 milhões de anos, pertencendo ao andar Kimmeridgiano do Jurássico Superior.
Nesses calcários com abundantes fósseis de conchas de bivalves, existem também fossilizadas as pegadas deixadas pelos grandes herbívoros desta época - os saurópodes.
Em "Pedras Negras" quase todos os afloramentos calcários, que não estão cobertos pela vegetação rasteira, apresentam impressões das mãos e pés de dinossauros saurópodes, mas também se encontram pegadas tridáctilas atribuíveis a dinossauros terópodes.
Nesses calcários com abundantes fósseis de conchas de bivalves, existem também fossilizadas as pegadas deixadas pelos grandes herbívoros desta época - os saurópodes.
Pegadas de dinossauros saurópodes |
Em "Pedras Negras" quase todos os afloramentos calcários, que não estão cobertos pela vegetação rasteira, apresentam impressões das mãos e pés de dinossauros saurópodes, mas também se encontram pegadas tridáctilas atribuíveis a dinossauros terópodes.
Pegada de terópode |
Num afloramento de média dimensão, na parte superior da arriba, as pegadas dos saurópodes sugerem a existência de segmentos de dois trilhos, compostos por impressões dos pés associadas a impressões das mãos, que conservam marcas dos dígitos/garras.
Afloramento de média dimensão na parte superior da arriba |
Os trilhos de calibre largo (“wide-gauge”) são atribuídos a uma família de saurópodes, os Titanosauriformes, que apartir do Jurássico Superior terá evoluído para uma anatomia em que os membros esquerdo e direito se foram afastando.
Os trilhos de calibre médio pertencerão possivelmente a Titanosauriformes mais primitivos, que estavam ainda numa fase intermédia da evolução para membros mais abertos.
Pegadas consecutivas de dinossauros sauropodes |
As pegadas de "Pedras Negras" do Jurássico Superior, foram atribuídas ao morfotipo Brontodopus, por se encontrarem em estratos de natureza carbonatada, associadas a um menor número de pegadas de terópodes, e por terem sido consideradas de calibre largo “wide-gauge”.
Pegadas de dinossauros sauropodes |
Continuando a descer em direcção ao mar, encontra-se o afloramento seguinte.
Com uma maior área de superfície exposta, esta laje contém um número significativo de pegadas, mas aqui não se vislumbra a existência de trilhos.
Afloramento com maior área exposta |
Tal como no afloramento anterior, nas grandes depressões de forma semi-triangular, que representam as impressões dos pés, é visível o rebordo saliente provocado pelo peso/pressão do pé ao pisar o substrato, o que leva a considerá-las pegadas verdadeiras.
Geralmente estão também associadas a impressões de mãos em forma de meia lua.
Pegadas de saurópode |
Em algumas associações mãos/pés, a heteropodia é muito elevada chegando a atingir 1:6 em algumas amostras, ou seja, a área ocupada pelo pé é seis vezes superior à área da mão, o que não é comum nas pistas de saurópodes encontradas até hoje em Portugal.
Mas existem em "Pedras Negras" outras associações mãos/pés onde estes valores baixam para uma heteropodia de 1:4, sendo a área ocupada pelo pé quatro vezes superior à área da mão, um valor mais comum nas pistas de saurópodes encontradas até hoje.
As impressões das mãos correspondentes à heteropodia mais elevada, encontram-se muito juntas ou quase sobrepostas às impressões dos pés antecedentes, pelo que o seu tamanho reduzido pode-se dever a que o lodo escorregadio, empurrado pela pressão do pé, tenha deformado o tamanho da pegada da mão à sua frente.
Mas poderão estas mãos de diferentes tamanhos representar espécies diferentes? ... ou um individuo do sexo oposto dentro da mesma espécie?.
Pegadas de sauropode - pé e mão - com heteropodia elevada |
Pegadas de sauropode num bloco isolado |
Além da heteropodia, as impressões das mãos em "Pedras Negras" apresentam outra diferença.
Nas pegadas maiores, é bem visível a grande garra do polegar (digito I) na parte posterior da mão, em forma de meia lua e uma leve impressão de outros dígitos na parte anterior.
Nas pegadas de menor tamanho, não se regista a impressão de dígitos ou garras, apenas uma forma de meia lua.
Mais uma vez, esta diferença pode-se dever a uma má preservação, a uma deformação causada pela sobreposição da impressão do pé, a diferentes condições em que se encontrava o substrato quando foi pisado, etc,.
Mas também se poderá interpretar como sendo impressões de mãos de diferentes saurópodes, já que estes, ao longo da sua evolução, foram sofrendo alterações na morfologia das mãos.
Estas foram adquirindo uma forma de coluna semicircular, perderam falanges de vários dedos, assim como foram perdendo os unguais (garras) que acabam mesmo por desaparecer na maioria dos saurópodes mais avançados - os Titanossaurios.
Mão de sauropode onde se distinguem margas de dígitos e a grande garra (ungual) do digito I |
Pegada de sauropode - mão |
Em "Pedras Negras", as pegadas dos pés, mais longas do que largas, chegam a atingir 80 cm de comprimento, alargam na zona dos dígitos e alongam-se posteriormente mostrando a marca de um calcanhar carnudo.
São também muito perceptíveis as marcas de quatro unguais/garras com uma rotação para o lado exterior do pé.
Pegada de pé de sauropode onde são bem visíveis quatro unguais/garras |
Pegada de pé de sauropode
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Pegada de sauropode noutro bloco isolado |
Mas quais as famílias de saurópodes as poderiam ter produzido?
É muito difícil se não impossível, determinar o autor de pegadas fossilizadas a menos que o mesmo tivesse morrido no local e aí se encontrassem os seus restos osteontológicos (ossos).
As pistas de calibre médio a largo, com a impressão de garras nas patas dianteiras são, como vimos, geralmente atribuídas a saurópodes Titanosauriformes.
Em Portugal foram encontrados ossos fossilizados de um dinossauro considerado um titanossauriforme basal, possivelmente relacionado com braquiossaurídeos, que devia ser o dinossauro mais alto e mais pesado de Portugal, com mais de 20 metros de comprimento, 12 metros de altura e mais de 20 toneladas de peso - o Lusotitan atalaiensis.
Foi encontrado em sedimentos datados do Kimmeridgiano superior/ Titoniano inferior da Formação da Lourinhã, que já nos revelou uma fauna imensamente variada de várias famílias de dinossauros do Jurássico Superior.
Quem sabe se num futuro, que se espera não muito longínquo, se venha a descobrir mais indícios dos dinossauros que por aqui caminhavam.
Muito ainda estará por descobrir nas arribas da Serra de Bouro.
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