Pegadas de Dinossauros na Praia do Salgado
A jazida da Praia do Salgado, muito perto de São Martinho do Porto, é mais uma das jazidas de icnitos portuguesas que tende a desaparecer pela erosão da água do mar.
Mas enquanto não desaparece vale a pena visitá-la se bem que isso só é possível quando da maré baixa.
Seguindo a estrada que vai de São Martinho do Porto para a Nazaré, vira-se à esquerda para a povoação de Serra de Mangues.
Aí, tem se se ter muita atenção para localizar uma estrada do lado esquerdo com o nome de Rua da Praia do Salgado. É uma estrada de terra batida que desce até a um parque de estacionamento. Chegados aqui, vira-se para sul onde uma enorme laje avermelhada repleta de oncólitos (formações esféricas produzidas por algas) nos conduz ao local da jazida.
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Vista geral da jazida de icnitos da Praia do Salgado |
A Jazida da Praia do Salgado é composta por três níveis sedimentares com pegadas de diversos grupos de dinossauros.
São estratos calcários formados no Jurássico Superior, na passagem do Oxfordiano para o Kimeridgiano, à cerca de 154 milhões de anos, num período de subida do nível do mar (transgressão).
Nas camadas que contêm as pegadas, podem-se encontrar vestígios de vegetação (lignite) e restos de bivalves, o que atesta um ambiente verdejante invadido periodicamente por águas salobras.
No nível sedimentar superior, encontra-se um trilho bastante longo composto por pelo menos 11 pegadas tridáctilas.
O produtor destas pegadas deslocava-se a uma velocidade estimada de 9,8 km/h, o que era uma velocidade considerada rápida para um dinossauro relativamente pequeno (altura da anca ao solo de cerca de 1,60m a 1,80m de altura).
As impressões com comprimento médio de 33 cm, apresentam-se com dedos longos e esguios terminando em forma de garras.
Possivelmente, devido à superfície estar com grande saturação de água, quando o pé foi retirado o sedimento viscoso escorregou para dentro da impressão dos dígitos, tornando-a mais estreita.
O ângulo formado pelos dígitos exteriores (II e IV) é elevado e a parte posterior das pegadas está mal definida sendo muito mais superficial do que a parte correspondente aos dedos.
Poderá significar que o dinossauro enterrava a ponta dos dedos ao deslocar-se.
Poderá significar que o dinossauro enterrava a ponta dos dedos ao deslocar-se.
A forma destas pegadas apontam para um dinossauro terópode, que se deslocava rapidamente afastando as pernas e os dedos laterais, na tentativa de se conseguir equilibrar sobre uma superfície muito molhada. macia e escorregadia.
Mas, o mesmo tipo de dinossauro poderia deixar impressões dos seus pés com uma configuração diferente se, por exemplo, caminhasse sobre uma superfície ainda mais maleável, ou não deixar nenhuma impressão se a superfície estivesse seca.
É o caso de algumas pegadas existentes nesta mesma camada, muito mais profundas, onde se consegue distinguir a impressão do digito I - o halux. (imagem em baixo).
Esta pegada que pode ter sido produzida por um dinossauro semelhante ao produtor das pegadas anteriores, sugere que o pé se enterrou ainda mais no substrato macio, permitindo a impressão desse digito, que nos pés dos terópodes é atrofiado e posicionado postero-medialmente.

Na camada superior da Jazida de Icnitos da Praia do Salgado, existem outras pegadas tridáctilas (três dedos) mais ou menos isoladas e mal preservadas.
Mal preservadas estão também as grandes depressões ovais a semi-triangulares, algumas de grandes dimensões, chegando a atingir 1m de comprimento, que terão sido produzidas por grandes saurópodes.
Inexistentes na camada superior, são porém frequentes no nível intermédio e inferior.
Mas muitas outras há que podiam e deviam ser preservadas in situ, no seu local de origem e não nas prateleiras escondidas dos museus.
Daqui a algumas gerações e se nada for feito, as raridades encontradas em Portugal no que diz respeito a icnofósseis, como as pegadas de dinossauros mas não só, apenas poderão ser visualizadas através do registo fotográfico.
Mas a fotografia, por muito elucidativa que seja, não capta a beleza do local na sua totalidade.
É preciso visitar, integrarmo-nos no local, imaginar-mos como seria aquele ambiente, a fauna e a flora que ali existia e que nunca se repetirá.
Ao dar-mos a conhecer as Pegadas de Dinossauros de Portugal através do nosso blog, estamos a tentar dar o nosso modesto contributo para a divulgação de um património único.
E estamos convencidos que, o aumento do número de visitantes a estes locais, muitos deles fora dos grandes roteiros turísticos, é uma forma de pressionar as entidades responsáveis do nosso país a olharem para este tipo de turismo de forma diferente.
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